sábado, 28 de março de 2009

Na estante .... os livros adormecem


Cem anos de solidão ...para ler


Dia lindo de sábado. O sol amarelo incendeia docemente a cidade. Hoje Pelotas é um enorme doce amarelo. Depois do almoço caminharei pelo centro e brindarei com um fio de ovos, uma trouxinha de nozes ou um olho de sogra. São meus doces preferidos. Apesar de que em Pelotas não existe nenhuma cana-de-açúcar plantada, Pelotas é a cidade dos doces. A troca do charque por açúcar fez possível este milagre. É o poderoso milagre do mercado dando certo. A mágica da fabricação de doces sem plantar cana-de-açúcar.
Tenho vontade de sair voando pela janela. Olharia de cima cada detalhe da cidade. Mas prometi a mim mesmo não voar nunca mais. Pelo menos hoje não voarei. Um dia assim como hoje promete ser libertador. Ontem arrumei meus livros. Por fim, numa parede da sala, coloquei uma estante. Ninguém suspeita sequer o prazer de ir colocando cada livro no seu lugar, encontrando as afinidades, por autor, por tema, e assim a parede foi se enchendo de livros que jamais eu lerei. Acho que foi Umberto Eco, que numa entrevista disse que levaria mais de 200 anos para ler todos os livros que ele tinha comprado. Mas que esse não era motivo para deixar de percorrer livrarias e becos de livros usados para descobrir maravilhas. Claro que ele não disse essas palavras literalmente, mas o sentido é esse. Eu penso o mesmo, não lerei todos os meus livros, mas alguém o fará. Meu sonho é um dia deitar na minha cama ou numa rede e ler sem parar. Leria esquecendo para sempre qualquer responsabilidade, qualquer tarefa encomendada. Apagaria de vez todos os compromissos e todos os prazeres, menos um, o prazer de ler.
Há pouco comprei uma seleção de contos de Juan Carlos Onetti, um escritor uruguaio, muito conhecido na América Latina, pouco conhecido no Brasil. O apresentador dessa coleção de contos de Onetti recomenda, por experiência própria, ficar deitado o dia todo, imerso no universo dos personagens onettianos. Um dia farei isso. Sem nada mais a fazer. Sem obrigação nenhuma, flutuando em Santa Maria, a cidade imaginária criada por Onetti e com os mesmos personagens, que passam de um conto para outro, que envelhecem com o leitor e, portanto são velhos conhecidos. Santa Maria, como cidade ficcional, não só representa as cidades do Rio da Prata, mas a cidade da América Latina.
Eu ficaria dias inteiros, meses lendo. Poderia o mundo cair lá fora e eu encerrado no meu mundo imaginário. Leria todo Borges, Garcia Marquez, Juan Rulfo, Julio Cortazar, Sergio Ramirez, só para nomear alguns latino-americanos. Eu me contentaria tendo cem anos só para ler, seriam meus perfeitos cem anos de solidão.
Só recentemente Juan Carlos Onetti foi traduzido para o português. Um par de semanas atrás descobri que o último livro de Vargas Llosa é um ensaio sobre Onetti. Em esse livro chamado de “EL viaje a la ficción”, obviamente sem tradução ainda, Llosa disse que Onetti ainda não foi descoberto e não obteve o reconhecimento que merece. E mais ainda, é categórico quando afirma que com Onetti a literatura latino-americana entra na modernidade, saindo do ambiente rural.
Juan Carlos Onetti nasceu em Montevidéu, em 1909. Morreu em Madri, longe da sua cidade natal, mas levou consigo Santa Maria, a cidade que ele criou. Em 1955 publica “La vida breve” . É nesta obra que cria Santa Maria.
Eu tive mais sorte que ele. Encontrei uma cidade gêmea, a doce Pelotas. Eu prometi que não voaria hoje, esqueçam o que eu disse.

domingo, 22 de março de 2009

FIDEL SENTADO FRENTE À TV, YOANI NA SALA DE MIGRAÇÃO




Enquanto Fidel, sentado frente à TV, torcia a favor do time cubano de beisebol, Yoani Sanchez está sentada, pela terceira vez, na sala da migração, esperando permissão para sair de Cuba. De novo e sem motivo nenhum é negada sua saída de Cuba. Nada adiantou a viagem marcada para 29 de março e o visto de entrada do País estrangeiro que pretende visitar.
Fidel grita com o home run do rebatedor cubano contra o time australiano. Yoani com seu olhos escuros fixa seu olhar nos lábios da senhora baixinha. Uns minutos de silêncio...Por fim a senhora, fazendo um esforço por parecer amável, mexe os lábios e disse: “Você não está autorizada a viajar”. Era a mesma resposta das vezes anteriores. Essas poucas palavras nomeiam uma nova geração de pessoas. Yoani e muitos outros pertencem à legião dos exilados para dentro, os que não podem sair do País. Como se deve supor, nenhuma justificativa, para a esta nova negativa. Sem nenhum conta pendente com a justiça, Yoani fez o esforço de lembrar e não encontrou nenhuma dívida nem com a justiça nem com qualquer loja. Ela pagou todas as parcelas da panela de arroz que se estragou poucos meses depois de ter sido comprada. .
O motivo da negativa de saída de Yoani é óbvio. Os burocratas querem que ela recolha cada palavra sua, que as guarde e as destrua. Em troca de seu silêncio ela poderá sair de Cuba, mas que será de Yoani sem suas palavras? Por agora ela continua de castigo por escrever seu blog e por ter acreditado que era livre, mas ela é teimosa.

O BEISEBOL, FIDEL, PELOTAS E EU - Parte II

Como eu disse antes, Cuba tem um dos melhores times de beisebol. Os cubanos se reúnem nas esquinas, no malecón a discutir sobre o beisebol. Qualquer biografia de Fidel é incompleta se não considera o seu fanatismo pelo beisebol. Na sua juventude Fidel era apaixonado pela revolução e pelo beisebol. Jovem, Fidel recusou uma proposta de cinco mil dólares para jogar com os New York Giants, um dos melhores times dos Estados Unidos. E Fidel fez história assim também. Nenhum latino-americano tinha recusado um contrato deste tipo.
Hoje, na sua convalescência, Fidel não perde um jogo transmitido pela TV. Igual que Fidel, eu assisti o jogo entre Japão e Coréia do Sul. Segundo ele, os dois mais fortes rivais de Cuba. Japão perdia 1 x 0, mas Fidel elogia a maestria técnica dos japoneses. E explicita o desejo que seja o time japonês quem enfrente os cubanos na final. A vitória dos cubanos seria completa, vencendo o time japonês. Mas Fidel ficaria decepcionado, não só pela derrota dos cubanos, que perderam no jogo com Japão, 5 x 0. A última vez que Cuba ganhou o clássico foi em 2005. Dois integrantes da delegação cubana de 73 membros não retornaram para a Ilha. Na sua crônica esportiva de 20 de março, os chama com amargura de “pobres diabos”. E talvez o sejam. A conclusão de Fidel é simplista e culpa à ideologia capitalista, mas também ele faz uma elaborada análise dos métodos e superioridade técnica dos japoneses.
E para Fidel, como é fácil de prever, o jogo, como tudo, é político. Segundo ele, o objetivo dos organizadores dos jogos era eliminar Cuba, país que tem resistido heroicamente e que não tem sido vencido na batalha das idéias.
No seu último comentário esportivo Fidel se maravilha com os recursos técnicos da TV que faz enxergar de forma nítida até a costura da bola a uma velocidade de 100 milhas por hora ou ver de pertinho quando a bola é capturada pela luva do jogador um décimo de segundo antes ou depois que o jogador pisa a base. E realmente é fantástico.
Surpreendi-me quando descobri que aqui em Pelotas existe o Bromo, um time de beisebol, que em silencio participa em campeonatos estaduais e nacionais. Minha surpresa aumentou ao saber que o beisebol é um esporte tão antigo no Brasil como na Nicarágua ou em Cuba. Por que o beisebol não atingiu as dimensões que o futebol é um mistério para mim. Talvez porque a mídia o considera um esporte da colônia, o beisebol permanece silencioso.
O beisebol chegou ao Brasil em 1850 por “americanos” das empresas como a Light e do consulado dos Estados Unidos. No início do século XX, os jogos de beisebol no Brasil atraiam mais gente que os de futebol.
Com a chegada do navio japonês Kasato Maru, em 1908, que também trazia tacos e bolas, novo sangue veio se incorporar na torrente de entusiasmo pelo beisebol. Em 1918 já existia o primeiro time de imigrantes japoneses. Até o início da Segunda Guerra Mundial existiu uma intensa atividade de jogos organizados em campeonatos locais. A proibição da reunião de imigrantes oriundos dos países do eixo fascistas congelou os tacos e as bolas. Com o fim da Guerra, se fundou em 1946 a Federação Paulista de Beisebol. A partir desse momento se realizam muitos torneios com a participação dos trabalhadores das fazendas paulistas. Foi construído o Estádio Municipal de beisebol do Bom Retiro, segundo se sabe, foi o primeiro estádio de beisebol construído com recursos públicos na América Latina.
Segundo me parece os imigrantes japoneses são os mais entusiasmados pelo beisebol. Em Londrina existem os principais estádios de beisebol. No Rio Grande do Sul os principais times de beisebol são The Hunters de Santa Cruz do Sul, o Bromos de Pelotas e o Farrapos de Porto Alegre. Prometi a Guillermo que iríamos assistir a um jogo de beisebol ao vivo. Espero que seja aqui em Pelotas, cidade onde nasceu.

O BEISEBOL, FIDEL, PELOTAS E EU - Parte I


O beisebol é pouco conhecido no Brasil. É um esporte submerso e para muitos, incompreensível. Joguei muito beisebol quando era menino em campos improvisados, à beira do lago de Manágua. Joguei muito em terrenos baldios e nas ruas do bairro. Uma bola, um pedaço de madeira e vários guris entusiasmados e “fanáticos” eram os elementos que juntos faziam possível os jogos mais fantásticos, só comparáveis aos jogos dos grandes times mundiais. Sabíamos de cor o nome de cada time.
Nesta semana descobri que está ocorrendo um campeonato clássico de beisebol, que começou em cinco de março. Surpreendi-me a mim mesmo magnetizado novamente, depois de tantos anos, por um jogo de beisebol.
Um dirigente da revolução sandinista na Nicarágua, disse uma vez que, o beisebol era o melhor que o império tinha deixado como herança. Mas o beisebol não foi inventado pelos gringos. Segundo sei o jogo é de origem irlandês.
De qualquer forma, nos Estados Unidos se joga um bom beisebol, até porque os melhores jogadores são escolhidos de times de muitos países latino-americanos. O nicaragüense Denis Martinez foi um dos melhores lançadores (pitcher), assim como muitos bons rebatedores da República Dominicana, Porto Rico, Venezuela, Colômbia.
Cuba tem um dos melhores times de todos os tempos. E muitas vezes os cubanos derrotaram ao time estadunidense. Os cubanos como os nicaragüenses adoram beisebol. O próprio Somoza, o ditador nicaragüense, até criou seu próprio time. O jogo de beisebol era extensão da política.
Há pouco, expliquei a Guillermo as regras de beisebol. Desenhei num papel o campo de beisebol, as bases e as posições dos jogadores. O menino cabeludo, atento, fazia comparações com as regras do futebol. Mas são jogos radicalmente diferentes. E a única forma de compreender suas regras é jogando.

sexta-feira, 20 de março de 2009

quinta-feira, 19 de março de 2009

Cuanto gané, Cuanto perdí - Pablo Milanés

As coisas perdidas

Quantas coisas perdidas. Uma rua, outra rua, um lago, uma língua. O olhar e os cheiros. O sabor da fruta que cai no quintal de casa. Os ovos das galinhas. As galinhas sem ovos. O cachorro que brinca. O barquinho no horizonte. Os morros lá no fundo. Os trilhos do trem e o trem. As lagartixas das cirurgias improvisadas. A guerra de pedras. O sangue que corre. Os ônibus em fogo. O vento nas folhas da amendoeira. As tartarugas na praça, a preguiça das árvores, o jacaré. O cinema da esquina. Os filmes de domingo de manhã. O perfume dos fantasmas do filme invadindo a sala de cinema. O medo. A missa e os mistérios dos subterrâneos da catedral. A confissão e os pecados inventados para ganhar a hóstia. A prima que me amou. Os olhos da vizinha, sua saia. O bairro que sumiu junto com os botecos e os bêbados. A poeira nos livros. A bola que pula na calçada. O natal e a supressa que não chegou. Eu menino, meu pai, eu pai. Eu, pai..

quarta-feira, 18 de março de 2009

O Pequeno Polegar da América agora é de esquerda


El Salvador é o menor país da América. Por isso é conhecido como o pequeno polegar. Este domingo, 15 de março, o jornalista Mauricio Funes, da Frente de Libertação Nacional Farabundo Marti, ganhou as eleições presidenciais.
Um novo vento sopra neste sofrido país. “Se Nicarágua venceu, El Salvador vencerá”. Esse grito que ecoava na Praça da revolução em Manágua, nos anos oitenta, hoje se realiza, não através da insurreição, mas nos comícios eleitorais.
Fica aberta a possibilidade de sensíveis transformações sociais, mas a esperança só fica em aberto. O fato da esquerda chegar ao governo não significa novas revoluções. As pessoas são as mesmas, mas os processos são diferentes. Na Nicarágua, a volta recente de Daniel Ortega ao governo, para alguns desinformados, significa o regresso da revolução. As condições são outras, e Ortega repete antigas práticas populistas. Anda a cavalo nas praças, de chapéu e é abençoado pela Igreja. Controla o partido de forma autoritária e é responsável pela divisão do sandinismo.

domingo, 15 de março de 2009

Los Coches de Granada

O Poeta

Canción de la Primavera/ Canção da Primavera - Mario Quintana

Primavera cruza el rio
Cruza el sueño que tú sueñas
En la ciudad dormida
Primavera viene llegando
El cataviento enloqueció
Quedó girando, girando
En torno del cataviento
Bailemos todos en bando.
Bailemos todos, bailemos
Amadas, muertos, amigos
Bailemos todos hasta
No saberse más el motivo…
Hasta que las paineiras hayan
Sobre los muros florecido!

*****

Primavera cruza o rio
Cruza o sonho que tu sonhas.
Na cidade adormecida
Primavera vem chegando.
Catavento enloqueceu,
Ficou girando, girando.
Em torno do catavento
Dancemos todos em bando.
Dancemos todos, dancemos,
Amadas, Mortos, Amigos,
Dancemos todos até
Não mais saber-se o motivo...
Até que as paineiras tenham
Por sobre os muros florido!

Poemas y frases del poeta

Nunca

Nunca nadie sabe si estoy loco para reír o llorar
Por eso mi verso tiene
Ese casi imperceptible temblor
La vida es triste, el mundo es loco
Ni vale la pena matarse por eso
Ni por nadie
Por ningún amor
La vida continua, indiferente



La cuna y el terremoto

Los versos, en general, son versos para acurrucar, como yo algunas veces lo he hecho, no sé si por simple complacencia… o pura piedad.
Pero, los verdaderos versos no son para acurrucar – lo son para estremecer.
Aún la más simple canción, cuando la canta un Garcia Lorca, te despierta el alma para un mundo de espanto.

Frases

“La mentira es una verdad que se olvidó de realizarse”.

“Y no me preguntes el asunto de un poema.Un poema siempre habla de otras cosas

El Tiempo y El Poeta


Siento en el aire que el tiempo está cambiando. El viento frio ya entra por la ventana. El verano se vá y vuelve el frío invierno.
Cuando hace frío en Pelotas cualquier semejanza con Granada se desvanece por completo.
Está llegando el momento en que busco refugio en los interiores y duermo bajo una montaña de cubiertas de lana, como si fuese una sepultura. Pero resucito cada mañana, si hay sol. Si hace frio, llueve y está nublado, para mí, es la mayor tragedia del mundo. Hago un esfuerzo de titán, para levantarme. Bañarme es una tortura, salir a la calle duele.
Pero hoy es domingo, el sol radiante es el mismo que ahora se deja caer sobre el Parque Central de Granada. Imagino los coches jalados por caballos que corren alegremente. Si no me engaño, Granada es la única ciudad de América donde transitan coches por sus calles. En un domingo como este, pero sin viento frio, los coches llenos de niños, circulan por sus calles, pasan por la catedral y la orilla de lago. Muchas veces anduve de coche con mi abuela.
Si no me engaño, julio es el mes más frio aquí en Pelotas. El frio les gusta a los poetas y a los músicos. No soy poeta, por eso detesto el frio. Aún poetas que viven en lugares calientes, añoran el frio. Puede ser que el frio sea un gran estímulo para el viaje interior. Será eso que algunos llaman de estética del frio? Ni idea.
Hay un lugar cerca de aquí que llama Alegrete. No conozco. Queda a unos 500 km de Pelotas. El 30 julio de 1906 nasce en esa ciudad Mario Quintana, uno de los principales poetas brasileños. Ese día el frio llegaba hasta los huesos. El termómetro de la farmacia indicaba 1 grado centígrado. A él si le gustaba el frío. En 1919 fue para Porto Alegre y estudió en el Colegio Militar. En mayo de 1994, cuando murió, también hacía frío. Sus poemas expresan una ironía inteligente e inesperada. Como muchos poetas, también fue periodista y traductor. Tradujo “En busca del tiempo perdido”, obra monumental del francés Marcel Proust.
No sé si los poemas de Quintana fueron traducidos al español. Sus poemas siempre nos sorprenden. Vi algunas de sus últimas entrevistas y la sensación que me pasó, es la de que se trataba de un niño juguetón y risueño. La expresión de su rostro era la de un niño travieso. Y sus poemas, una diversión infantil. Casi siempre vivió en hoteles. El último donde vivió, hoy es una casa de cultura. Lo intentó tres veces, pero nunca fue aceptado en la Academia Brasileña de Letras. Como él decía, títulos son simplemente títulos, además de que, estar en la academia seria un obstáculo para la creatividad de cualquier poeta. En 1980 recibió el premio Machado de Assis como reconocimiento de toda su obra.
Según él, lo mejor que le había pasado, era haber nascido. En una entrevista le piden que hable de sí mismo, como si sus poemas no lo hacían. Y fue eso lo que él respondió. Sus poemas nos describen ese niño juguetón, que nasció prematuro y por eso tenía el complejo de no haber nascido completo. Y así buscó completarse en cada poema que escribió.

Frases - Nicanor Parra

No nos echemos tierra a los ojos
El automóvil es una silla de ruedas
El león está hecho de corderos
Los poetas no tienen biografía
La muerte es un hábito colectivo
Los niños nacen para ser felices
La realidad tiende a desaparecer
Fornicar es un acto diabólico
Dios es un buen amigo de los pobres

sábado, 14 de março de 2009

Gacela del amor desesperado - Federico Garcia Lorca

La noche no quiere venir
para que tu no vengas,
ni yo pueda ir.
Pero yo ire,
aunque un sol de alacranes
me coma la sien.
Pero tu vendras
con la lengua quemada
por la lluvia de sal.
El dia no quiere venir
para que tu no vengas,
ni yo pueda ir.
Peor yo ireentregando a los sapos
mi mordido clavel.
Pero tu vendras
por las turbias clocas
de la oscuridad.
Ni la noche ni el diaquieren venir
para que por ti muera
y tu mueras por mi.

http://www.youtube.com/watch?v=aQo8mOh6AHc&feature=related

As línguas de todos los sabores


Hablo numa língua que não é minha. Quando preciso, empresto palabras. Às vezes as alugo, também faço escambo, e cambio uma por outra. Outras vezes, deformo las palabras. Em algunos casos as invento.
Perdi minha lengua e a busco em vão. Emudeço de raiva e medo de olvidar las palabras y los sonidos. Há línguas y lenguas de todos los sabores. Quando falo numa, pienso en la outra. Estoy partido em dois, soy perdidamente bi-polar. Minha lengua é bi-partida como las línguas das serpentes.

Na praça da revolução


Manágua - 20 de julho de 1979. Uma enorme multidão na praça central da capital. Nos rostos cansados, aparecia a esperança de um futuro melhor. As roupas coloridas refletiam a luz brilhante daquela manhã. Espalhadas por todos os cantos da praça, as pessoas, esperavam os discursos dos dirigentes até esse momento totalmente desconhecidos. As pessoas se penduravam nas árvores da praça e nas torres da velha Catedral.

Nos alto-falantes ouviam-se as músicas revolucionárias. Alguns dançavam. Outros buscavam no mar de gente, algum amigo ou parente. Garotos se abraçavam pela primeira vez depois de meses de guerra. Muitos outros ainda continuavam desaparecidos. Restos humanos permaneciam insepultos nos morros que circundam a capital.

A multidão gritava os nomes dos ausentes levantando suas fotos em cartazes improvisados. No meio da multidão eu lembrava do Chico. Ele acreditava na vitória. Mais do que eu. Mas ele não estava ali. Nunca mais estaria nem ali nem noutro lugar. Nunca mais o veria. No início de junho, poucos dias antes que a insurreição generalizada explodisse em Manágua foi capturado quando saia de uma reunião num bairro. Sempre o imaginei e ainda hoje o imagino deitado no chão do Jipe militar. Talvez esperando um descuido de seus captores para escapar como outras vezes. Lembro dele quando cheguei à universidade. Ele era presidente do Centro Universitário da Universidade Nacional (CUUN). Ele tinha 28 anos. Para mim, era um cara velho. O Jipe atravessou as ruas cheias de poeira do bairro. O levaram para trás de uma fábrica de tintas. O deitaram no chão. Um soldado disparou na sua nuca. E ficou ali mesmo por muito tempo. Lembrei também de Oscar que chamávamos de “El Negro”. Um cara sempre alegre. Brincalhão. Caiu em combate no ocidente do País na ladeira de um vulcão. Lembrei de Ulises que num assalto a um banco em Masaya foi morto porque sua arma travou. Quando ele ganhou as eleições para presidente da Associação de Estudantes da Universidade chegou em casa faceiro, onde sua mãe aflita o esperava.

O sacrifício do Chico, Oscar e Ulises parecia não ter sido em vão. Afinal Somoza tinha fugido três dias antes. Com ele fugiram os mais próximos, familiares e membros do círculo do poder que tinha controlado o País por mais de quatro décadas enquanto milhares de soldados fugiam como podiam. Na corrida desesperada Somoza levou os restos mortais do seu pai, o fundador da Ditadura.

No norte e no sul os soldados derrotados cruzavam as fronteiras. Outros capturados. A revolução era generosa e esses soldados que serviram durante muito tempo ao ditador não foram fuzilados. Outros, como o “Macho Negro”, não foram alcançados pela generosidade da revolução. O “Macho Negro”, um oficial do exército de Somoza, tinha se tornado o terror dos bairros orientais de Manágua. Capturou e torturou dezenas de jovens. Muitos destes rapazes foram tirados violentamente das suas próprias casas e assassinados na periferia da capital. O “Macho Negro” foi capturado em Masaya e antes que a guerra finalizasse foi fuzilado em público. Lembro a imagem dele caindo de lado. Os olhos fechados. De regata branca. Calça caqui e de chinelos. Para mim, essa imagem divulgada pelos jornais posteriormente, simbolizava o final de uma etapa da história que pouco tempo antes parecia impossível. Fuzilar o “macho negro” era tão improvável. Afinal nem se sabia ao certo se ele existia mesmo. Como um fantasma parecia estar em todos os pontos da capital.

Os combatentes continuavam entrando na praça, em ônibus e caminhões levantando os fuzis. A multidão gritava de júbilo. O vento que vinha do lago refrescava os rostos cansados. As árvores da praça balanceavam numa dança improvisada soltando sobre o chão um manto de flores vermelhas e amarelas. Os sinos da catedral tocavam alegremente.

Tantas vezes cruzei ainda menino, essa praça. Fascinavam-me as enormes preguiças que no topo das árvores permaneciam imóveis. Eu também permanecia imóvel por muito tempo olhando para cima esperando em vão o mais leve movimento daqueles animais preguiçosos. No centro da praça tartarugas e jacarés tomavam sol num pequeno tanque. Do lado norte da praça os velhos trilhos esperavam ainda o trem passar. Lá no fundo o lago agitado. Todas as casas dos bairros próximos tinham desaparecido no terremoto de dezembro. O bairro da minha infância, apenas duas quadras da praça não existia mais. Tinham ficado apenas as ruas. Não havia nenhuma casa onde antes se aglomerava uma população alegre. Imaginava as pessoas subindo e descendo as ruas com sacolas de frutas e verduras e nas ruas, a carroça puxada a cavalo. Um homem coberto de preto vendia carvão aos gritos. Nos botecos alguns bêbados tropeçavam nos seus próprios pés.

A fúria invisível da natureza tinha poupado apenas o Palácio Nacional e a velha Catedral. As tartarugas e os jacarés ainda estavam ali. Alheios à algaravia que inundava a praça e que agora se estendia para todos os cantos do País.

Desde abril os guerrilheiros tinham combatido por todas partes às tropas fiéis do ditador Anastacio Somoza Debayle. Com todo tipo de armas, algumas de fabricação caseira, outras tomadas dos próprios soldados de Somoza, e ainda outras conseguidas com o apoio internacional, os guerrilheiros encurralaram o inimigo nos quartéis. Era o povo em revolução, mas não havia armas para todos. O céu tinha sido tomado por assalto. Pouco a pouco a praça foi se enchendo de fuzis que se levantavam no céu limpo de julho.

Pensei que a revolução era uma espécie de mágica. Bastava “tomar o poder”. Derrubar uma ditadura infame. E as coisas andariam por caminhos novos.. Os revolucionários seriam novos seres, justos, e completamente diferentes dos anteriores, dos ditadores e déspotas. Mas não existe mágica. E a revolução se desfez no caminho.

Peor para el sol - Joaquin Sabina

¿Qué adelantas sabiendo mi nombre?
cada noche tengo uno distinto
y, siguiendo la voz del instinto,
me lanzo a buscar…-
-imagino- preciosa -que un hombre-
-algo mas, un amante discreto
que se atreva a perderme el respeto…
¿no quieres probar?
vivo justo detras de la esquina,
no me acuerdo si tengo marido,
si me quitas con arte el vestido
te invito a champan-
le solte al barman mil de propina,
apure la cerveza de un sorbo
(acerto quien “el templo del morbo”
le puso a este bar)
peor para el solque se mete a las siete en la cuna
del mar a roncar
mientras un servidor
le levanta la falda a la luna
al llegar al portal nos buscamos
como dos estudiantes en celo,
un piso antes del septimo cielo
se abrio el ascensor…nos sirvio para el ultimo gramo
el cristal de su foto de boda
no falto ni el desfile de moda
de ropa interior.-
”en mi casa no hay nada prohibido
pero no vayas a enamorarte,
con el alba tendras que marcharte,
para no volver
olvidando que me has conocido
que una vez estuviste en mi cama…
hay caprichos de amor que una dama
no debe tener”-peor para el sol
que se mete a las siete en la cuna
del mar a roncar
mientras un servidor
le levanta la falda a la luna.
-es mejor- le pedi -que te calles,
no me gusta invertir en quimeras,
me han traido hasta aqui tus caderas…
no tu corazon-y despues… ¿para que mas detalles?
ya sabeis… copas, risas, excesos,
¿como ban a caber tantos besos
en una cancion?
volvi al bar a la noche siguiente
a brindar con su silla vacia,
me pedi una cerveza bien fria
y entonces no se
si soñe o era suya la ardiente
voz que me iba diciendo al oido:
-”me moria de ganas, querido
de verte otra vez”
peor para el sol
que se mete a las siete en la cuna
del mar a roncar
mientras un servidor
le levanta la falda a la luna.

http://www.youtube.com/watch?v=M6D_NRrwQdQ

La Última Cena

“Eppur si muove!" ou os divinos absurdos da Igreja


É difícil desvendar a lógica retorcida da Igreja. No Brasil, há poucos dias, uma menina de nove anos foi estuprada. A vida da menina de nove anos estava em perigo e foi preciso interromper a gravidez. A Igreja rapidamente condenou o aborto com a excomunhão instantânea, mas não condenou o estupro contra a menina.
O estupro não é condenado porque não está contemplado nas leis da Igreja, dizem os bispos.
Mas, sem dúvida, não falta coerência aos bispos. A estratégia de erradicação da heresia continua sendo eficiente na pós-modernidade. Essa luta pela preservação dos valores cristãos é longa e sangrenta.
Para cumprir sua missão, os representantes de Deus na Terra usaram os mais terríveis instrumentos e hoje recorrem a divinos absurdos. Afinal, o fim justifica todos os meios.
Podemos pensar que a Inquisição pertence à Idade Média, mas ela se perpetua por outros meios tão absurdos como os instrumentos que usava o verdugo em nome de Deus.
A luta da Inquisição contra os avanços da ciência continua viva. As pesquisas de células-tronco são uma heresia igual à de Galileu. Não há diferença nenhuma. Apesar ou precisamente pelos avanços da ciência a Igreja recua séculos. Pior, teima em trazer de volta a noite escura.
É mais fácil decifrar o mistério da Santíssima Trindade que explicar o celibato dos padres. Mas é uma forma de tortura que não dá certo nem garante a pureza dos representantes do Reino de Deus na Terra. Como se sabe, eles rompem o celibato de forma cruel, arruinando a vida de meninos. Muitos casos tem saido a público. Quantos outros não permancem sepultados nas paredes abençoadas?
Tentar entender por que não há nenhuma bispa na Igreja ( acho que nem existe essa palavra) é um esforço inútil. É vã a tentativa de entender o sexo limitado à reprodução, negando para os outros, em clara hipocresia, o prazer que para eles reclamam em silêncio torto.
As bruxas vagueiam na pós-modernidade. E há de todas as espécies. O mesmo discurso da Igreja permance rígido apesar das mudanças profundas. No século XV europeu a conspiração das bruxas ameaçava a vida esplendorosa dos ricos. O livro mais vendido depois da Bílblia, era Malleus Maleficarum , um manual completo (o martelo das feiticeiras) para identifica-las e tortura-las.
Ao igual que os verdugos da Idade Média, o padrasto estuprador está a salvo da excomunhão. Com certeza ele não sabe que é isso, mas qualquer coisa é preferível a estar trás as grades. Afinal essa tal excomunhão não deve nem doer, não serve para nada e ele nem batizado é.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Las golondrinas.

Salgo a caminar por la calles de Pelotas. El dia termina. Las penumbras me acosan en las esquinas. Un bando de golondrinas revolotea feliz. A esta hora todo parece más triste. Las calles se van poniendo vacías.
Todas las ciudades son iguales a esta hora.
El cielo simula una mueca de dolor. Un pedazo de sol se quedó olvidado en el cielo. Inútil, resiste a desaparecer. Es eso lo que me parece inédito a esta hora. No es de dia, no es de noche. Es la tarde que se vá.
As andorinhas, finalmente, encontraram um lugar na fiação. A noite será longa, mas leve, ao menos para elas. Os minutos passam. O silêncio espesso se deposita na calçada.
O pedaço de sol pendurado desapareceu. A noite escura, como uma enorme onda, inunda a cidade. Parece que nunca choverá. Caminho sem parar. Ninguém nas ruas.
Não tenho aonde ir. Ficarei em alguma esquina. Dormirei na porta de uma loja. Os manequins serão minha companhia. Um pedaço de papelão, minha cama. Acordarei com o sol esquentando meu rosto. Deliro perdido num mar de gente. As andorinhas desapareceram.

Camino de los quileros (Osiris Rodríguez Castillos)

Hay un camino en mi tierra
del pobre que va por pan,
camino de los quileros
por la sierra de Aceguá.
Tal vez, sin ser tan baqueano
cualquiera lo ha de encontrar,
pues tiene el pecho de piedra
pero el corazón de pan.
Gurisito pierna flaca
Barriguita de melón
Donde hay tanta vaca gorda
No hay ni charque para vos.
Tu bisabuelo hizo patria,
tu abuelo fue servidor,
tu padre carneó una oveja
y está preso por ladrón.
Toma café con fariña
y andá guapeando por ahí.
Mañana mate cocido;
pasado, Dios proveerá.
Mañana busco el camino
del pobre que va por pan
Si no me para una bala
pasando te traigo más.
Yerba, caña, rapadura,
un rollo de naco, nomás;
los pobres contrabandeamos
a gatas pa' remediar.
¡Qué gaucho es el tal camino!
Pero duro de pelar.
Camino de los quileros
por la Sierra de Aceguá.

O banheiro do Beto

Cada nota musical de Cafrune vai doendo na alma na medida em que avança o filme. A história é real, e no filme se espelham outras histórias, de tantas populações esquecidas por Deus e o Diabo.
Refiro-me ao filme “O banheiro do Papa”. Achei o filme grávido de uma ironia que só a própria vida real possui. Miséria e religião se misturam na história do filme, mas também campeia nela, livre, a esperança das populações à margem da história.
A chegada do Papa a Melo, pequena cidade uruguaia, fronteiriça com o Brasil, representa a salvação, mas não a salvação eterna pregada pelo Papa e seus seguidores, mas a salvação imediata e urgente do naufrágio, este sim eterno, em que vivem milhões neste mundo.
Os jornalistas informam que a chegada do Papa, levará a Melo 20, 40, 50 e até 100 mil pessoas, a maioria deles, brasileiros. A blasfêmia se instala na comunidade. Alguns ficam com medo que anjos com as espadas de fogo venham a expulsar os sacrílegos. Jesus expulsou os mercadores do templo, conta a bíblia. Parece que foi ele o primeiro a ser contra o livre comércio. Mas no caso de Melo se trata de uma iniciativa justa, ao final Deus ajuda a quem se ajuda.
A agitação se espalha pela comunidade. As iniciativas vão se multiplicando como ondas de um mar revolto. Batatas fritas, lingüiça, pastéis, água quente para o mate.
E se todos comerem e beberem, com certeza, precisarão de um banheiro. E se fez a luz. A nova idéia como um relâmpago iluminou o céu. E Beto, um dos personagens, empreende uma alucinada correria para poder trazer o vaso do outro lado da fronteira. E faz qualquer coisa para isso, tenta pegar as economias que a mulher está guardando para os estudos da filha, que sonha ser apresentadora de TV. Nessa correria Beto até pactua com o Diabo, representado pelo guarda de fronteira (um legítimo urubu). Pacto que depois desfaz, mas paga o preço, com a recriminação da filha e da mulher. A vida é cheia de armadilhas. Algumas delas, mortais.
A visita do Papa a Melo foi tão fugaz que nem deu tempo de encher as bexigas. Ninguém procurou o banheiro do Beto. O esforço foi inútil. Os pastéis e as lingüiças ficaram nas mesas e a aflição das pessoas não era mais comovedora, porque está incrustada muito funda na pele dos pobres.
A esperança dos pobres é interminável. Ela é a última que morre. Uma nova idéia surgirá, e talvez desta vez dê certo. De fato, na última cena do filme, Beto grita para a mulher “Tenho uma idéia”!!!