domingo, 31 de maio de 2009

Messenger bloqueado



A internet deixou de ser um espaço livre e democrático. A Microsoft bloqueou o funcionamento do Windows Live Messenger em cinco países: Cuba, Coréia do Norte, Síria, Sudão e Irã. O cidadão que tenta entrar no MSN nestes países se depara com a seguinte mensagem de erro:


22 de maio
Error 810003c1: We were unable to sign you in to the .NET Messenger Service.


When you try to sign in to Windows Live Messenger, you receive the following error message:

810003c1: We were unable to sign you in to the .NET Messenger Service.

Microsoft has discontinued providing Instant Messenger services in certain countries subject to United States sanctions. Details of these sanctions are available from the United States Office of Foreign Assets Control.

De mi - Charly

Charly Garcia

Yendo de la cama al living

Podés pasear en limousine
cortar las flores del jardín
podés cambiar el sol
y esconderte si no quieres verme.
Puedes ver amanecer
con caviar desde un hotel
y no tienes un poquito de amor para dar.
Yendo de la cama al living
sientes el encierro
yendo de la cama al living.
Podés saltar de un trampolín
batir un record en patín
podés hacer un gol,
podés llevar tu luna al cielo
puedes ser un gran campeón
jugar en la Selección
y no tienes un poquito de amor para dar.
Yendo de la cama al living
sientes el encierro
yendo de la cama al living.
Oh no no no
no hay ninguna vibración
aunque vives en el mundo de cine
no hay señales de algo que vive en mí.
Voy yendo de la cama al living
sientes el encierro
voy yendo de la cama al living.


sábado, 30 de maio de 2009

Vamos mulher

Em 1907, na pequena cidade portuária de Santa Maria de Iquique, norte do Chile, foram massacrados 3.600 trabalhadores das minas de salitre. Do seu porto, saiam embarcações de salitre para Europa. Os ingleses eram os donos dos empreendimentos que controlavam desde longe. Os trabalhadores chilenos laboravam em péssimas condições, ganhando muito pouco, extraindo salitre no deserto de Atacama, com temperaturas de mais de 30º durante o dia e -5º de noite. Em dezembro desse ano, decidiram ir para Santa Maria de Iquique, com a esperança de serem ouvidos pela aristocracia salitreira. Quando chegaram lá, começaram as negociações com o intendente Carlos Eastman que decidiu ir a Santiago para encontrar uma solução para o conflito. Quando voltou da capital, foi recebido com festa pelos trabalhadores, mas ele trazia um destacamento militar. No dia 21 de dezembro, a escola “Domingo Santa Maria”, onde estavam os trabalhadores, amanheceu cercada de canhões e metralhadoras. O general Silva Renard ordenou bombardear a escola. Os trabalhadores foram massacrados e muitos corpos enterrados em valas comuns. Assim inicia o breve século XX na América Latina.
Em 1970, o Grupo Chileno Quilapayún compôs a cantata popular a Santa Maria de Iquique, para que esse acontecimento não fosse esquecido. Numa das músicas, “Vamos mulher”, um operário convida a mulher para ir com ele e que confie porque em Santa Maria seriam ouvidos.




Vamos mujer,
partamos a la ciudad.
Todo será distinto,
no hay que dudar.
No hay que dudar,
confía, ya vas a ver,
porque en Iquique
todos van a entender.
Toma mujer mi manta,
te abrigará.
Ponte al niñito en brazos,
no llorará.
No llorará, confía,
va a sonreír.
Le cantarás un canto,
se va a dormir.
¿Qué es lo que pasa?,
dime, no calles más.
Largo camino tienes
que recorrer
atravesando cerros,
vamos mujer.
Vamos mujer, confía,
que hay que llegar
en la ciudad
podremos ver todo el mar.
Dicen que Iquique es grande
como un Salar,
que hay muchas casas lindas,
te gustarán.
Te gustarán, confía,
como que hay Dios,
allá en el puerto todo
va a ser mejor.
¿Qué es lo que pasa?,
dime, no calles más.
Vamos mujer,
partamos a la ciudad.
Todo será distinto,
no hay que dudar.
No hay que dudar, confía,
ya, vas a ver,
porque en Iquique
todos van a entender

Frio e intolerância

O frio começa a fazer seus estragos. A intolerância também, e piores. Minha mão está congelando sobre o teclado, os dedos enrijecidos. A sensação desconfortável do frio me invade. A esta hora já tomei três xícaras de café quente. Aqueço-me apenas por um segundo. O frio é um intervalo da vida, ao menos para mim, muita gente adora frio, e em especial os poetas. Não sou poeta. Fecho as portas e janelas da minha casa. Chove. Sábado triste e desolador. Hoje não sairei de casa. Terminarei “La vida breve” de Onetti. Afinal a vida breve é. O menino cabeludo, meu filho, ainda dorme. Vida feliz.
Percorro os jornais do mundo. Leio com atenção algumas das matérias. Por fim, El Pozo, o primeiro romance de Onetti, será traduzido para o português. No Uruguai está sendo publicado “El último viernes” (A última sexta-feira), um conto inédito de Onetti, doado à biblioteca nacional pela sua filha que o guardava como um tesouro.
Na Nicarágua o mundo está de ponta-cabeça. Esta semana um grupo de estudantes impediu Sérgio Ramírez, entrar à universidade, onde apresentaria seu último livro. O escritor foi xingado e jogaram sobre ele água suja. Ironias da vida ou simplesmente intolerância. Em tempo de ditadura a universidade, com seus muros pintados, era uma ilha de liberdade. Ramírez é um escritor nicaragüense que foi vice-presidente de Ortega durante o período revolucionário (1979-1990). Hoje faz parte dos muitos dissidentes de Ortega e fundou um novo movimento.

La batea

O Grupo Quilapayún no Estadio antes do golpe militar

sexta-feira, 29 de maio de 2009

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Violeta

Manifiesto

El cigarrito V. Jara

Victor




Quem não conhece Victor Jara? Só agora, depois de 36 anos, um dos seus assassinos confessou o crime. Detido desde sexta feira passada, José Paredes confessou em Santiago, que ele fez parte do pelotão que disparou 44 vezes contra o cantor e poeta chileno.
Victor foi detido, junto com mais de 5 mil partidários de Allende, no Estádio de Chile. Era setembro de 1973 quando os militares ao mando de Pinochet, derrubaram o governo popular de Salvador Allende. Paredes tinha 18 anos e estava cumprindo o serviço militar. As músicas de Victor, como El cigarrito (o cigarrinho) e El manifiesto, têm sido interpretadas entre outros por Serrat, Sabina e Rodríguez.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Serenata para a terra da gente

Como la cigarra

BAJOFONDO

Bajofondo é um grupo de uruguaios e argentinos que renova o tango, incorporando a música eletrônica, talvez uma blasfêmia para os defensores da tradição, mas sem dúvida trata-se de uma explosão de ritmo e de criatividade.
El Mareo

Bajofondo Tango Club

Avanzo y escribo
decido el camino
las ganas que quedan se marchan
con vos

Se apaga el deseo
ya no me entreveo
y hablar es lo
que se me da
mejor

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar

El aire me ciega
hay vidrio en la arena
ya no me da pena
dejarte un adios

Asi son las cosas
amargas borrosas
son fotos veladas
de un tiempo mejor

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar

El aire me ciega
hay vidrio en la arena
ya no me da pena
dejarte un adios

Asi son las cosas
amargas borrosas
son fotos veladas
de un tiempo mejor

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar

Con los ojos no te veo
se que se me viene el mareo
y es entonces
cuando quiero
salir a caminar


domingo, 24 de maio de 2009

Um terremoto e uma revolução

Duas coisas marcaram profundamente minha vida: um terremoto e uma revolução. Uma delas foi para mim, muito concreta e fácil de explicar cientificamente: duas placas tectônicas que num momento se chocam e nesse movimento derruba tudo o que há na superfície.
A revolução, pelo contrário, foi algo abstrato, mas que pouco a pouco foi tornando-se tão concreto e dolorido, (con)fundindo-se com a própria carne. A revolução era uma idéia tão abstrata que, como em um filme de ficção, poderia tomar qualquer forma: de uma coisa ou de uma pessoa, de uma pedra ou de um bicho. Para mim, primeiro foi uma coisa, depois foi tomando outras formas impensáveis.
Ainda estava no colégio quando fui conhecer a universidade. Era um lugar misterioso. Ficava afastado, longe e que só o fato de se deslocar até lá, era uma aventura. Era uma espécie de ilha, mas metaforicamente falando. Era tempo de ditadura. Tudo era proibido, no País havia censura, restrição da livre circulação das idéias e muitos prisioneiros políticos. Esse lugar misterioso foi minha primeira imagem da revolução.
O primeiro que me chamou a atenção foram as paredes cheias de pichação. Não tinha nenhuma parede sem pichação. Essa imagem eu nunca esqueci, primeiro foi algo estranho, e depois, pouco a pouco, fez parte de mim, se fundindo comigo. Muitas vezes eu amanheci nas mesas de arquitetura, ou num velho colchão no local da associação de estudantes. E sem perceber todos os significados, fiquei no centro do turbilhão que iniciava a explodir.
Muito me perguntam hoje, se na Nicarágua a revolução voltou. Com certeza não, ela terminou, a desilusão estampada nos rostos de muitos é um forte indicador. Quando me perguntam se a revolução voltou, fico tentado a responder que nunca houve revolução. Mas talvez seja um exagero responder isso, ou seja muito difícil de compreender para quem ouve. Ou até para quem disse tal coisa, neste caso: eu. A verdade é que a grande maioria de meus amigos estão completamente desiludidos. Alguns buscaram refúgio na religião, na salvação eterna, já que a terráquea foi uma ilusão. Pode ser que para eles, a revolução fosse uma espécie de religião, a mais verdadeira, mas que depois se contaminou, apodreceu ou ficou impura.
Por isso é difícil pensar que a revolução é “tomar o poder”. Talvez este seja o sentido da afirmação de um sociólogo que disse que é possível (ou necessário) fazer a revolução sem tomar o poder.
Por isso a revolução é difícil de explicar. Antes era uma idéia luminosa que eu enxergava pairando sobre o lago de Granada, ou como a força invisível do vento que levanta pedacinhos de papel nas ruas de Manágua.

sábado, 23 de maio de 2009

Desenhos animados

O breve espaço em que não estás

Um sábado com Pablo

No jornal

O melhor médico

Mi abuelita hablando de las maravillas del internet

yo digo que es un profesor, digo que se aprende todo lo que hay. Pero también es un doctor inmenso, porque yo estoy cansandísima a veces, y me encienden el internet, y empiezo a ver todas esas cosas, mis vídeos, mis fotografías, y yo ya me entretengo y tiro dos horas que hasta no me acuerdo de que estoy enferma. No me acuerdo hasta de mi enfermedad.

Hasta es médico, porque te saca muchas preocupaciones. Estás preocupada tú, a lo mejor por una tontería, pero tú la ves negra. Cojes el Internet, bueno, hoy voy a ver paisajes, voy a ver poblaciones que me entretienen. Ver Barcelona, ver Madrid, el otro día estuve viendo Buenos Aires, que era una verdadera preciosidad la ciudad, ciudad grandiosa, me encanta.

Y muchas veces se pasa así el rato. ¿Estoy triste?. Cojo el Internet, voy a ver capitales del mundo entero. Es grandioso.

En la televisión también aprendes cosas, y me gustan los debates mucho, los debates cuadno hay política y eso me gustan mucho. Y es fácil. Pero también los ponen a unas horas...que yo a la 1 de la mañana hoy podía ver esto de América, pero voy para cama, porque ya el cuerpo no resiste. Yo ceno a las 9 y voy para la cama. Y no voy antes porque tengo miedo cojer agua en el pulmón de tanta cama.

Y esto es un entretenimiento. Y al menos, en el Internet aprendes cosas que no sabía. Y que yo estoy admirada. Me encanta

Adeus vovó - Adios mi abuelita


Os blogueiros estão de luto, perderam sua avó. Na quarta-feira 20 de maio morreu Maria Amélia López Soliño, uma doce senhora que em 2006, aos 95 anos, ganhou de aniversário do neto: um blog. Sua vida mudou completamente. Ela se divertia contando suas histórias, e foi muito feliz nos seus últimos anos. Nem sequer imaginamos como um computador ligado à rede pode mudar a vida das pessoas. Da sua memória lúcida foram saindo histórias da sua infância. Ela nasceu em Muxía, um pequeno povoado da costa de Galícia, na Espanha. Escrevia de tudo: de política e de comida, do seu cotidiano, da sua infância e das festas, de teatro e de poesia, da guerra civil espanhola. Infelizmente apenas ontem descobri seu blog, mas todas suas histórias estão na rede, e desde ontem, estou me divertindo com suas histórias. Fiquei maravilhado. Ela confessa que, desde os dezesseis anos, é socialista. Recebeu milhares de comentários de todos os continentes. Deu centenas de entrevistas e aprendeu muito. Recebeu visitas de muitas pessoas. Até da Rússia chegaram a vê-la. Sua vida estava muito agitada. El País, o jornal da Espanha, a descreve como uma “nonagenária global”.
Desde seu blog defendia os direitos das pessoas mais velhas. E até propus um programa mínimo, dentre eles: o direito ao acesso à internet, já que tira as penas e que longe de ser um luxo, é um instrumento para defender os direitos. “Eu queria que os velhos não perdessem a ilusão” – disse ela.
Seu blog é recheado de bom humor. Criou alguns vídeos divertidos, onde ela fala, mas a figura que parece é a de um tubarão. Vale a pena viajar pelo seu blog e se divertir.


Aqui o Blog da minha avó: http://amis95.blogspot.com/

terça-feira, 19 de maio de 2009

Entrevista com Mario Benedetti - publicada por Página-12

En esta conversación Mario Benedetti tenía 86 años y hacía poco había perdido a Luz, su mujer. Pese a la tristeza, habló de sus padres, de su infancia en Paso de los Toros y Tacuarembó, de sus posiciones políticas y las persecuciones que le valieron y también habló de fútbol y de la esperanza.

Por Juan Cruz *

Mario Benedetti inventó la palabra desexilio cuando pudo volver a Uruguay, tras los años de plomo de la dictadura. Pero no hay una palabra que le quite la tristeza de verse solo después de sesenta años con Luz. Era su mujer y murió después de un grave y lento proceso de Alzheimer. Cuando nos sentamos con él, en su casa de Montevideo, se levantó de pronto, cruzó la sala donde recibe a las visitas, fue hasta la estantería que hay junto a la computadora y vino con una fotografía que le acababa de traer su hermano Raúl. En la fotografía, los matrimonios de los dos hermanos. Luz murió y la esposa de Raúl está hospitalizada con la misma enfermedad (luego moriría). Cuando nos enseñó la fotografía, Mario comenzó a sollozar, así que cuando pudimos hablar de nuevo, sobre él pesaba la sombra de una tristeza a la que él ya no le ve final.

Acaba de cumplir 86 años. Una larga vida de poeta, novelista, articulista, activista político. La policía militar de su país lo persiguió por el mundo –Buenos Aires, Lima, La Habana– para que cumpliera la condena de muerte implícita que pesaba sobre él. España fue su penúltimo refugio. En Mallorca vivió años muy felices, lo dice él, y en Madrid se hizo con casa, amigos y esperanzas hasta que pudo volver. Fue entonces cuando inventó la palabra desexilio: acostumbrarse a vivir en el país que fue el suyo. En todas las partes sus recitales son como los de un músico de rock, en todas las ferias del libro le piden autógrafos como si fuera un actor de cine, y muchos músicos –Viglietti, Serrat, Tania Libertad– hicieron de sus poemas música de amor y de resistencia.

Muestra momentos de cierta felicidad, pero está herido. La muerte de Luz fue un tremendo mazazo. Recordé a Benedetti en Madrid, un día después de una de las operaciones que lo tuvieron postrado hace años. Le llevábamos los diarios para que cumpliera uno de los ritos principales de sus mañanas. Uno de esos amaneceres lo vimos desmejorado, sin afeitar. “Tienes que afeitarte, Mario; así pareces más enfermo.” Al día siguiente volvimos y preguntó como un adolescente “¿No decís nada? ¿No has visto que me he afeitado?”. Esa combinación de tristeza e ironía, y de ingenuidad a veces rabiosa que hay en sus versos y en su vida, es la música que debe sonar de fondo cuando se lo oye hablar.

–¿Cómo eran sus padres?

–Había un gran desnivel cultural entre ellos... Mi padre era químico y enólogo, y mi madre casi no había acabado la primaria. Mi madre era bastante caprichosa, no se llevaron bien. Mi padre era un tipo muy inteligente, generoso, buena persona. Y como profesional era excelente.

–¿De dónde le venía esa relación con el vino?

–Era químico, farmacéutico; cuando acabó su carrera era soltero, y era complicado para él conseguir trabajo. Le dijeron que a lo mejor en el interior del país podía ingresar como químico en alguna farmacia. Y se fue a Paso de los Toros. Le dieron trabajo en una farmacia cuyo dueño llegó a apreciarlo mucho. Le decía: “Vamos a dar un paseo, y así yo me tomo un remedio”. El remedio era caña, una bebida muy fuerte. Fue en Paso de los Toros donde mi padre conoció a mi madre. Y se casaron. Yo tengo el recuerdo de Paso de los Toros.

–Y se fueron de Paso de los Toros...

–Sí, a Tacuarembó. Ahí mi padre tenía un amigo farmacéutico, quería vender la farmacia. Y mi padre quería comprarla. Como eran tan amigos no exigió ni contrato ni inventario; cuando mi padre se quedó con la farmacia halló que estaban sólo los envases de los medicamentos; ¡todos los envases estaban vacíos! Aquel tipo lo engañó. Quisieron embargarle la farmacia a mi padre, y él creyó que la podía sacar adelante. No pudo. Ese embargo pesó mucho sobre él y terminamos yéndonos de Tacuarembó. Cuando yo tenía cuatro años nos vinimos a Montevideo.

–¿Y lo del vino?

–Lo del vino viene de mi abuelo. Mi abuelo tenía unos cinco títulos. Era un sabio. Se llamaba Breno Mario Edmundo Renato Nazareno Rafael Armando mi abuelo. El era enólogo. Piria, el creador de Piriápolis, que era un bandido, supo que mi abuelo sabía mucho de vinos, y lo llevó para que le armara la bodega y le hiciera los vinos. Pasaron los meses y no le pagaba nada, y mi abuelo quiso irse. Pero la única manera de irse era en los barcos de Piria, y éste se los negó.

–¿Y cómo se fue?

–¡Se vino a pie! Atravesando campos, desde Piriápolis a Montevideo. Caminando.

–Fantástico.

–Luego lo contrataron, alcanzó seguridad económica y se trajo a la novia. Que estaba en Italia. Mi abuela era sorda como una tapia, pero intuía, y si notaba que se estaba diciendo algo cómico, ella se reía como una loca. Cuando él percibió que mi padre estaba en mala situación, en Montevideo, le enseñó lo de los vinos. Y como mi padre era químico, asimiló muy bien esas cosas. Por eso fue enólogo.

–Esto del vino debe dar un carácter especial.

–Debe ser. En aquella época, como dice mi hermano Raúl, los vinos aquí eran horribles, malísimos. Donde mi padre y mi abuelo intervinieron, los vinos eran buenos. Mi abuelo también fue astrónomo; el Estado le encargó un observatorio, que tuvo en el jardín de su estancia. El anunciaba el tiempo, las tormentas, y mandaba los partes a Montevideo.

–¿Cómo se fue haciendo usted?

–Aprendí a leer solo. Me pusieron en el colegio alemán, y fui enseguida a segundo, porque yo ya había leído a Julio Verne y a Salgari. Allí, en el colegio alemán, nos enseñaban a golpes.

–¿Eso lo marcó?

–Me marcó en varios aspectos, y me hizo aprender un idioma, el alemán, que es hoy el idioma que manejo mejor...

–Incluso ha sido actor en alemán...

–El idioma que uno aprende en la infancia es el que uno aprende mejor. Nos separaban a los que hablábamos alemán o español con nuestras familias. Eso originó una guerra entre los que hablábamos español y los que hablaban alemán en casa, ¡se producían unas piñatas espantosas en los recreos! Ahí aprendí a jugar al rango. Nos hacían jugar juntos, a ver si mejorábamos la relación. El alemán que me tocaba a mí se agachó, yo iba a saltar, y de pronto el tipo se tira al suelo y yo salí volando, hasta que di con la boca en una vereda. Yo le hice luego lo mismo. La peor penitencia era que el director te llevaba al despacho, te daba una paliza.

–Qué disciplina. ¿Qué huella le dejó?

–Me hizo muy disciplinado, muy estricto, muy puntual. Ese rigor tenía su desventaja. Una vez nos daban una clase de carpintería y un hijo de alemanes tuvo una discusión conmigo; tenía un cuchillo, me lo tiró y me lo clavó en una pierna. No era fácil la vida en el colegio alemán.

–¿Y cómo se dio cuenta de por dónde iba la vida, de cómo era su país?

–Vas tomando conciencia de a poco... Y del país me di cuenta más tarde, cuando ya empiezo a comparar. A mí siempre me gustó Montevideo, porque aquí me pasaron cosas buenas y malas. Soy montevideano, desde los cuatro años vivo aquí.

–Y casi en todos sus libros está Montevideo...

–Y me atrae porque siempre ha tenido un buen nivel cultural; fue durante muchos años el país con mayor alfabetización de América latina. Cuando era un niño empecé a leer y leer. Los primeros versos de mi vida los escribí en alemán, ¡los profesores no se creían que fueran míos! Tuvo que ir mi padre para certificar que de veras los había escrito yo.

–Era un país feliz...

–Nos hizo mucho bien el fútbol. Fuimos campeones olímpicos de fútbol en los años veinte, en 1924 y en 1928, y en 1950 le ganamos a Brasil la final de la Copa del Mundo en el Maracaná. Gracias al fútbol nos conocieron en el mundo. ¡Cuando ganamos las Olimpíadas, en París, la gente no podía creer que un país tan chiquito, que casi no estaba en los mapas, saliera campeón! Cuando ganamos en 1924, me acuerdo que estábamos en Tacuarembó, y mi padre escuchaba una radio española con unos auriculares que no sé de dónde sacó. En 1928, ya en Montevideo, seguíamos los resultados en la plaza Libertad, a través de unas pizarras. Uruguay jugaba la final, con Italia, y bajaban los cartelones: “Uruguay cede corner, Italia cobra off side”. ¡Uruguay ganó 3 a 2!

–¡Sus dos países frente a frente!

–El fútbol hizo feliz a Uruguay, le dio importancia, personalidad. Que un país tan chico tuviera cuatro títulos mundiales era una cosa increíble. Y lo del Maracaná ya fue el colmo.

–Un orgullo.

–Además, todo eso coincidió con un buen momento económico; no veías mucha miseria, siempre había algunos suburbios de pobreza, pero la gente vivía bastante bien.

–Y, como diría respecto de Perú su tocayo Vargas Llosa, ¿en qué momento se jodió Uruguay?

–Yo creo que fue sobre todo la crisis económica la que lo precipitó todo. Antes se había acabado el buen fútbol, se fueron los buenos jugadores. Se acabó la guerra de Corea y le dejaron de comprar productos a Uruguay, como la carne y la lana. Los gobiernos de los que siguieron a Batlle no alcanzaron la altura de éste. ¡Durante 174 años ganaron gobiernos conservadores, hasta ahora mismo, que ganó el Frente Amplio!

–En 1973 surgió una dictadura brutal...

–Surgieron la tortura, la corrupción, el soborno, y enfrente estaban los tupamaros. Los tupamaros creían que la revolución iba a ayudar a la redistribución de la poca riqueza que le quedaba al país. Y los ricos, los militares y los gobernantes aceleraron la represión y la tortura. Ahí empezó todo.

–Usted hizo política...

–Estuve en uno de los movimientos que se integraron en el Frente Amplio. Fue una experiencia dura, porque tienes que decir en la tribuna algo con lo que no siempre estás de acuerdo. Además, no improvisaba los discursos, los escribía, y eso para un político no es nada bueno. Un día me vinieron a avisar unos amigos: me iban a meter preso en menos de 48 horas.

–El exilio.

–Yo no me quería ir. “¡Te tienes que ir!”, me decían, “¡te van a torturar!”. Hicimos un acto por la libertad de Daniel Viglietti y después me marché a Buenos Aires. En Buenos Aires estuve poco; era la época de López Rega. Y López Rega sacó una lista de personas que debían dejar el país, porque si no las mataban. Entre esas personas estaba yo, el único extranjero. Me fui a Perú. Allá me dieron trabajo en un diario, con la condición de que no dijera ni media palabra de política: ni de Uruguay ni de Perú ni de Estados Unidos. Mis artículos versaban sobre literatura. Un día tocaron el timbre abajo. Era la policía, me querían deportar. Me dieron a elegir: Cuba, Ecuador o Uruguay. Mientras lo iba pensando, el tipo que me fue a avisar de la deportación se fue durmiendo, y yo aproveché para deshacerme de los papeles comprometidos. Cuando se despertó me rogó: “Por favor, no les diga a mis superiores que me quedé dormido”.

–Extraordinario.

–Me acompañó luego al aeropuerto, me dio la mano y me abrazó. En Buenos Aires me estaba esperando Luz. Yo tenía un llavero que llamaba el llavero de la solidaridad, porque abría las casas de cinco o seis amigos argentinos en las que yo me podía refugiar.

–¿Y qué pasaba mientras en Uruguay?

–Dictadura, crisis económica, y ya no se ganaba tampoco al fútbol. Todo era malo, y se iba la gente. Al exilio, por razones políticas o por razones económicas. ¡Incluso se iban a Australia! Hubo una librería en Sydney en la que sólo había libros uruguayos.

–En Buenos Aires asesinaron a Zelmar Michelini, un líder uruguayo de izquierda, de enorme carisma...

–Cada discurso suyo era como un poema... Lo secuestraron, con otros compañeros; a él le había ofrecido Jimmy Carter acogida en EE.UU., y no se quiso ir, “¡si en Uruguay están torturando a mi hija!”. A la hija le dijeron que habían matado a su padre los torturadores. Y los mataron, a Michelini y a sus dos compañeros.

–¿Qué huella dejó en usted ese asesinato?

–Fue terrible. Yo estaba en La Habana, y lo escuché por alguna radio española. Un golpe espantoso. Fue mi gran amigo del exilio...

–Cuba fue una escala de su exilio.

–Cuando estaba en Perú, Haydée Santamaría me envió una invitación para que fuera a trabajar a Casa de las Américas, que ella dirigía. Yo estaba corriendo peligro... Y cuando estaba allí los criticaba mucho, sobre todo aquellas cosas que se hacían y que perjudicaban a la revolución en el extranjero. Cuando me fui recibí una carta de Haydée: me extrañaban, decía, sobre todo por las críticas que les hacía...

–¿Y cuáles eran sus críticas?

–Se hacían cosas innecesarias, que daban mala imagen en el extranjero. Lo que yo trataba era que se cuidara la imagen exterior de Cuba, porque no se podían quedar solos. Yo les decía que debían tener buenas relaciones no sólo con la Unión Soviética, que tenían que abrirse a México, a Francia, a Italia. El simple apoyo de la Unión Soviética no era un apoyo muy beneficioso, aunque lo fuera desde el punto de vista técnico o económico.

–¿No le parece ahora que la presencia de un hombre tanto tiempo al mando también es perjudicial para el país?

–Mira, habiendo vivido en Cuba se entiende mejor eso. Fidel Castro no es sólo importante para los revolucionarios; es también importante para los que quieren que se muera. Además, antes de la Revolución, Cuba estaba horrible. Los americanos no tenían prostíbulo, lo pusieron allí. Cuando ganó Fidel, la gente se lo agradeció. La enseñanza era espantosa, ¡hasta los gusanos le reconocen que trajo cosas muy positivas! Y dicen que tiene no sé qué enfermedades, y que es millonario, y parece que nada de eso es verdad. No sé qué puede pasar cuando muera; no creo que la Revolución se venga abajo. Aunque parece que está solo, ha formado gente capaz. Y del país inmoral que había conducido Batista a éste hay mucha diferencia; en Cuba la moral es muy importante.

–Le tiene usted mucha gratitud a Cuba...

–Sí, y también por lo que representó para Uruguay. La izquierda fue muy procubana acá.

–Su exilio siguió en España.

–El principal problema en Cuba era que no podía comunicarme con mi familia. Si mis padres recibían una carta de Cuba, iban presos. Para comunicarme con ellos les mandaba cartas a través de amigos españoles. Y lo pasaba mal por eso, era muy doloroso no poderme comunicar directamente con ellos. El País me había ofrecido que colaborara y en cuanto llegué me abrieron un espacio en las páginas de Opinión. Me pagaban bien, de modo que no tuve problemas en España. Primero estuve en Madrid, y luego fuimos a Mallorca. Lo pasamos muy bien; a Luz le gustaba mucho la playa.

–El asma lo devolvió a Madrid.

–En Mallorca lo pasaba de lo más bien; hablaba alemán con los turistas, escribía, pero me atacó el asma, y un médico argentino me dijo: “Andate a Madrid”; me pagaron unos derechos de La tregua, mi libro más vendido, y me compré un apartamento. El de Ramos Carrión, mi casa en Madrid.

–¿Qué huella le dejó el exilio?

–Me demostré a mí mismo tener buena capacidad de adaptación. Y descubrí que en todos los países hay hijos de puta y gente macanuda. Me vinculé con la buena gente, no con los hijos de puta, así que tuve muy buenos amigos, en España, en Cuba, en México, en Argentina. Sé que otros uruguayos no abrían la valija, por si se volvían pronto, pero yo colocaba la ropa en los placares, porque sabía que la cosa iba a ser larga. La gente me ayudó mucho...

–¿Cómo fue el regreso, el desexilio?

–Era agosto, le prometí a Daniel Viglietti que haríamos un recital, a dos voces. Llegué en solitario, me fue a buscar Raúl al aeropuerto, y cuando dimos el recital hubo un gentío tal que llenaba varias calles alrededor del teatro. A la gente la encontré distinta, más desconfiada. Como la dictadura había metido espías de un lado y de otro... Las relaciones internas de los habitantes de Montevideo se habían deteriorado un poco. Yo era otro, además. La experiencia del exilio me había convertido en otra persona, con todo lo que de bueno y de malo me había dado la vida fuera de mi país. Yo era otra persona.

–¿Y cómo era esa otra persona?

–Era una persona más alerta, más enterada del mundo; antes estaba muy metido en la cosa uruguaya, y seguí ocupado en todo eso en el exilio, pero ya no era lo exclusivo. En Madrid, por cierto, hice buena amistad con Juan Carlos Onetti, que no salía de la cama. Para qué iba a salir de la cama, decía: en la cama uno nace, en la cama uno coge por primera vez, en la cama uno se enamora, se casa, escribe, para qué iba a salir. Me acuerdo que una vez fue a verlo un periodista, y él vio que se fijaba en que sólo tenía dos dientes. “¿Usted me mira estos dientes?”, le dijo. “Pues le advierto que tengo una dentadura magnífica, pero se la he prestado a Mario Vargas Llosa.”

–También conoció a Borges.

–Un tipo extraño. Venía acá, a Montevideo, y no se ponía en plan de gran personaje; era sencillo, y nosotros lo admirábamos mucho, por lo que escribía. Luego tuvo posiciones que yo no compartí.

–Dice que era extraño.

–Era muy reservado. Me invitó a almorzar, en Buenos Aires, con su madre. La madre era de armas tomar. Era una generala, y él era retraído. Fue muy buen escritor.

–¿Qué otros le despertaron interés?

–Rulfo, José Emilio Pacheco. Con Juan Rulfo fue muy curioso. Ibamos Luz y yo en un ómnibus, y él se acercó a mi mujer: “Señora, ¿me deja sentarme al lado de su marido, que creo que es Benedetti?”. Empezamos a hablar de mil cosas, y ahí empezó mi amistad con Rulfo, en un ómnibus. No se daba fácil, pero cuando se daba, se daba con todo.

–Y también fue muy amigo de Cortázar.

–Lo conocí en París. Cortázar vivía a media cuadra. Era un tipo muy simpático. Los dos trabajábamos en la radio, pero no quería ser fijo. Era muy celoso de su independencia. Un día escribió algo muy crítico con Cuba, se informó mejor y rectificó en público.

–¿Cuáles han sido sus miedos?

–Primero, los de cualquier niño. De adulto, la tortura. Creo que si me hubieran torturado no habría traicionado a nadie, pero me habría costado mucho sufrimiento. Siempre le tuve miedo a la tortura.

–¿Miedo al tiempo?

–Y sí, porque los años van pasando y uno se va volviendo viejo, y eso es bravo reconocerlo ante el espejo.

–La poesía le ha dado mucho éxito...

–Hay que cuidarse del éxito, porque el éxito puede pervertir a un escritor. Nunca escribí en función del éxito, escribí lo que me salió de las pelotas. Si tenía éxito, bien, y si no, pues nada.

–¿Y cómo lleva las aglomeraciones?

–Eso me agobia un poco. El otro día tuve que ir a hacerme un análisis; fuera de la clínica había un gentío, y emprendieron una ovación. Ellos estaban allí, con sus problemas, y se pusieron a aplaudir. A mí me apabulla. Vivía mejor cuando me castigaban más.

–¿Es un solitario?

–No lo soy, pero trato de que cuando tenga que vivir la soledad, ésta no me lastime. Cuando muere mi mujer, se produce un terrible momento de soledad; frente a eso, la escritura es como una guarida. Puede ser mi guarida o puede ser mi jardín, depende del estado de ánimo que esté pasando. Para el dolor es mi guarida, sobre todo cuando me han rodeado las muertes.

–Ahora se reencuentra con Montevideo.

–Es la ciudad que quiero. Después de años y años de gobiernos que le hicieron daño al país, ahora vuelvo a otro Montevideo y yo soy otro también. Siempre me siento a gusto en Montevideo. La gente ha quedado malherida después de años de dictadura. Y yo también vuelvo malherido. Tratamos de recomponernos...

–En Alicante, hace años, usted leyó un poema en el que adelantaba los males de los siglos próximos.

–Escribí en algún lado que un pesimista es un optimista bien informado. Creo que es difícil ser optimista cuando la humanidad está siendo manejada por una potencia tan cruel y despiadada como Estados Unidos. Yo creo que los norteamericanos van a derrotar a Estados Unidos, creo que la única esperanza es la derrota de EE.UU.

–Dígame algo inolvidable.

–Toda mi relación con Luz, desde la infancia. Y conocer a Fidel, también es inolvidable. Y el Maracaná. El fútbol fue muy importante, nos dio alegría. Y si ahora se puede recuperar la alegría, no es por el fútbol, es por la política. La gente tiene esperanzas en Tabaré Vázquez y son fundadas.

–Y cuando el fútbol se recupere, ¿se habrá recuperado Uruguay?

–No sé si el fútbol se va a recuperar, no tengo demasiadas esperanzas, pero Uruguay se recuperará.

* Publicado en Página/12 el domingo 17 de septiembre de 2006

Papel mojado - Benedetti -Tania Libertad - Serrat

Papel mojado - Benedetti

Con rios
con sangre
con lluvia
o rocio
con semen
con vino
con nieve
con llanto
los poemas
suelen
ser papel mojado.



Papel molhado

Com rios
com sangue
com chuva
ou sereno
com sêmen
com vinho
com neve
com pranto
os poemas
costumam ser
papel molhado.

Hagamos un trato - M. Benedetti

Compañera
usted sabe
puede contar
conmigo
no hasta dos
o hasta diez
sino contar
conmigo

si alguna vez
advierte
que la miro a los ojos
y una veta de amor
reconoce en los míos
no alerte sus fusiles
ni piense qué delirio
a pesar de la veta
o tal vez porque existe
usted puede contar
conmigo

si otras veces
me encuentra
huraño sin motivo
no piense qué flojera
igual puede contar
conmigo

pero hagamos un trato
yo quisiera contar
con usted

es tan lindo
saber que usted existe
uno se siente vivo
y cuando digo esto
quiero decir contar
aunque sea hasta dos
aunque sea hasta cinco
no ya para que acuda
presurosa en mi auxilio
sino para saber
a ciencia cierta
que usted sabe que puede
contar conmigo.

Hagamos un trato

“Nunca escribí en función del éxito, escribí lo que me salió de las pelotas” M. Benedetti

Eduardo Galeano

El dolor se dice callando.
Pero me pregunto:
¿qué será de nuestra ciudad, sola de él?
¿qué será de Montevideo, mutilada de él?
Y me pregunto:
¿qué será de nosotros, sin su bondad inexplicable?

Pasatiempo - Mario Benedetti

Cuando éramos niños
los viejos tenían como treinta
un charco era un océano
la muerte lisa y llana
no existía.

Luego cuando muchachos
los viejos eran gente de cuarenta
un estanque un océano
la muerte solamente
una palabra.

Ya cuando nos casamos
los ancianos estaban en cincuenta
un lago era un océano
la muerte era la muerte
de los otros.

Ahora veteranos
ya le dimos alcance a la verdad
el océano es por fin el océano
pero la muerte empieza a ser
la nuestra.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Adeus a Benedetti

Benedetti e Viglietti

Mi Niñez - J. B. Serrat

Mi Niñez - J.M. Serrat

Tenía diez años y un gato
peludo, funámbulo y necio,
que me esperaba en los alambres del patio
a la vuelta del colegio.

Tenía un balcón con albahaca
y un ejército de botones
y un tren con vagones de lata
roto entre dos estaciones.

Tenía un cielo azul y un jardín de adoquines
y una historia a quemar temblándome en la piel.
Era un bello jinete
sobre mi patinete,
burlando cada esquina
como una golondrina,
sin nada que olvidar
porque ayer aprendí a volar,
perdiendo el tiempo de cara al mar.

Tenía una casa sombría,
que madre vistió de ternura,
y una almohada que hablaba y sabía
de mi ambición de ser cura.

Tenía un canario amarillo
que sólo trinaba su pena
oyendo algún viejo organillo
o mi radio de galena.

Y en julio, en Aragón, tenía un pueblecillo,
una acequia, un establo y unas ruinas al sol.
Al viento los ombligos,
volaban cuatro amigos,
picados de viruela
y huérfanos de escuela,
robando uva y maíz,
chupando caña y regaliz.
Creo que entonces yo era feliz.

Tenía cuatro sacramentos
y un ángel de la guarda amigo
y un "Paris-Hollywood" prestado y mugriento
escondido entre mis libros.

Tenía una novia morena,
que abrió a la luna mis sentidos
jugando los juegos prohibidos
a la sombra de una higuera.

Crucé por la niñez imitando a mi hermano.
Descerrajando el viento y apedreando al sol.
Mi madre crió canas
pespunteando pijamas,
mi padre se hizo viejo
sin mirarse al espejo,
y mi hermano se fue
de casa, por primera vez.

Y ¿dónde, dónde fue mi niñez?

domingo, 17 de maio de 2009

Milonga del Moro Judio - J. Drexler

A filha do marceneiro


Quando acordei a primeira imagem que eu vi foi aquela senhora de cabelos brancos, presos num coque maravilhoso, de saia azul marinho, de bolinhas brancas, blusa bordada, sapatos de cor clara, de salto baixo. Minha avó era muito parecida com Golda Meir, a primeira ministra de Israel. Depois eu soube que ela fazia suas próprias roupas. Eu a via debruçada horas na máquina de costurar, parecia feliz, divertindo-se como uma menina. De vez em quando aparecia, pela porta que dava ao pátio, um senhor de bigode, de regata branca e calças caquis. Ela parava e se levantava para abraçá-lo. Era meu pai. Soube depois que ele também passava horas na máquina de costurar fazendo calças masculinas. Nos meus devaneios posteriores pensei que meu destino estava traçado: eu também ficaria sentado horas diante a máquina de costurar, ouvindo o barulhinho harmonioso da agulha entrando rapidamente no tecido. Uma manhã, antes do meio dia, pela mesma porta que dava ao quintal, a loucura entrou em casa, e de contrabando a morte também. Vi o homem de bigode se desmoronar com o peito partido. Deitou na minha estreita cama de menino, de lona militar. Um barulho estridente estremeceu meus ouvidos e soube que o mundo começava a desabar. Do quintal entrou um vento morno. Escutei o gato andando no telhado. De repente fiquei só na casa. A senhora arrastou para a rua o homem de bigode que parecia de chumbo, chamou um taxi que partiu veloz com rumo desconhecido, mas que eu adivinhava. O gato desceu do telhado e entrou pela porta aberta. Deitou-se perto de mim e vi seus olhos amarelos e tristes. Senti um vento frio subindo minhas costas. Pensei em Adília, a filha de seu Ernesto, o marceneiro que morava ao lado, nosso vizinho. Ela era de cabelos e olhos escuros e na tarde anterior, sem eu pedir nada, me deu um beijo e com ele também seu segredo. Um segredo macio e doce que eu guardei, e com ele enchi a casa toda. Eu tinha seis anos, ela dezessete. Na rua, o sol de Manágua explodia em faíscas brilhantes, redondinhas e irregulares, que eu ainda vejo.

sábado, 16 de maio de 2009

A Venus pornográfica


A fascinação do homem pelos mistérios do sexo feminino é tão antiga como ele mesmo. Uma descoberta recente deixou os arqueólogos emudecidos. Na caverna Hohle Fels, no sul da Alemanha, no estado alemão de Baden-Württemberg, foi encontrada uma pequena escultura, de marfim de mamute, de apenas seis centímetros e trinta e três gramas, com seios e sexo desproporcionais.
Esta Venus, como se denominam estas esculturas, tem cerca de 40 mil anos. É portanto a figura humana (ou sua representação) mais antiga encontrada até hoje. Apesar de tão pequena, rivaliza com a Venus de Milo e com a Venus de Willendorf, outra escultura, descoberta na Áustria em 1908 e que tem 28 mil anos. As opiniões dos arqueólogos estão divididas. Alguns a consideram uma representação da fertilidade, outros um amuleto, ou até um objeto sexual.
Na cabeça pequena, a escultura tem um orifício que permite adivinhar que alguém a utilizava pendurada no pescoço. Parece que o homem primitivo explicitava melhor seu assombro diante do poder feminino. Difícil explicar por que a origem da vida é creditada a um Deus único e masculino. Pelo menos nos últimos dois mil anos. Ou talvez seja precisamente por isso que o feminino tem sido banido, para não reconhecer sua capacidade de produzir a própria humanidade. Hoje os representantes do Deus masculino na Terra se esforçam para desconhecer o poder feminino. Será que isto explica o celibato?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A CRISE

Recebi este texto de um professor que aprecio muito. Esta pequena história mostra como a crise afeta as pessoas e como ocorre a circulação do dinheiro, ao mesmo tempo em que evidencia as ilusões criadas pela economia.

*********************
Numa pequena vila e estância na costa sul da França, chove, e nada de especial acontece. A crise sente-se. Toda a gente deve a toda a gente, carregada de dividas.

Subitamente, um rico turista russo, chega ao foyer do pequeno hotel local. Pede um quarto e coloca uma nota de E100 sobre o balcão, pede uma chave de quarto e sobe ao 3º andar para inspecionar o quarto que lhe indicaram, na condição de desistir se lhe não agradar.

O dono do hotel pega na nota de E100 e corre ao fornecedor de carne a quem deve E100, o talhante pega no dinheiro e corre ao fornecedor de leitões a pagar E100 que devia há algum tempo, este por sua vez corre ao criador de gado que lhe vendera a carne e este por sua vez corre a entregar os E100 a uma prostituta que lhe cedera serviços a crédito. Esta recebe os E100 e corre ao hotel a quem devia E100 pela utilização casual de quartos à hora para atender clientes.

Neste momento o russo rico desce à recepção e informa ao dono do hotel que o quarto proposto não lhe agrada, pretende desistir e pede a devolução dos E100. Recebe o dinheiro e sai.

Não houve neste movimento de dinheiro qualquer lucro ou valor acrescido. Contudo, todos liquidaram as suas dividas e estes elementos da pequena vila costeira encaram agora otimistamente o futuro.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Los dioses deben estar locos I

Os deuses devem estar loucos

Finalmente explodiu o conflito latente entre a Igreja e o governo de Daniel Ortega. O motivo: uma carta supostamente escrita por meu amigo, o sociólogo Orlando Nuñez que também é assessor presidencial. Essa carta se espalhou rapidamente pela internet. O silêncio do governo fez aumentar a tensão.
Quando li sobre essa carta o primeiro que pensei: Orlando será sacrificado e devorado, assim como outras revoluções devoraram os seus próprios filhos. Ainda bem que não foi assim e a carta foi atribuída a hackers de luxo. É o que disse Rosário Murillo, esposa de Ortega. Outros responsabilizam à CIA, algo que também pode ser possível, ao final de tudo há na vinha do Senhor...
Conheço Orlando: além de crítico e democrático é generoso. Nos anos 80 quando era diretor de um Centro especializado em estudos da reforma agrária, teve a coragem de aceitar no seu seio a muitos dissidentes de esquerda e críticos do sandinismo. Era a época da euforia revolucionária. E ele conseguiu a proeza de juntar num centro de pesquisa todos os tipos de exs...: ex-maoístas, ex-trotskistas, ex-comunistas e tantos outros ex. Assim, os velhos jovens radicais, mesmo não esquecendo a Trotsky ou Mao foram seduzidos pela pesquisa científica.
A última vez que eu fui para Manágua, Daniel Ortega ainda não tinha voltado à presidência e encontrei Orlando matutando a idéia de criar um Programa de fome zero semelhante ao de Lula.
Agora os bispos esperam provas. Na carta os bispos são acusados de corrupção, mulherengos, pais de filhos ilegítimos e alcoólatras.
Daniel voltou à presidência da Nicarágua com o apoio da Igreja católica. Em troca, Ortega se empenhou em proibir o aborto terapêutico. Um direito adquirido fazia cem anos e garantido pela constituição nicaragüense. De nada serviram as vozes revoltadas do movimento das mulheres. Essa relação entre a igreja e o poder é antiga e cheia de labirintos misteriosos e perigosos.
Sábado passado estava programada uma reunião entre os bispos e o governo cuja pauta era: o aborto terapêutico, a paz social, a administração pública e as demandas sociais. Por causa da tensão ocasionada pela carta, a reunião não aconteceu e foi incluída na programação da XXXII Assembléia do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) que começou esta semana em Manágua. Os bispos querem evitar que o governo volte atrás em relação ao aborto terapêutico, portanto que seja mantida a proibição. Os deuses devem estar loucos. Igual àquele filme excelente de inícios dos anos 80 a quem não viu, eu recomendo.

domingo, 10 de maio de 2009

Cantares - A. Machado - J. M. Serrat

Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.

Nunca perseguí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse...
Nunca perseguí la gloria.

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino
sino estelas en la mar...

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar:
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse, le vieron llorar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso.

sábado, 9 de maio de 2009

Amor y guerra

Me he buscado en medio de la multitud y no me encuentro. Estuve en ese festival en la Plaza de la Revolución, en Managua. Eran tiempos de guerra, amor y música. Es lo que dice una de las canciones. El imperio cercaba el país. En el norte y en el sur seguían los combates y el cielo se llenaba de humo. Al menos por un momento la música substituyó el fuego de los fusiles. Viglietti llegó con su guitarra de Montevideo. Mercedes con su roja túnica vino de Buenos Aires y Silvio Rodríguez con su canción urgente

Canción urgente

Guacamole

Mercedes y Pablito

Que Bueno - Jarabe de palo - Drexler

AÑOS

Pequeña serenata diurna

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Cuando me vaya

Cuando me vaya

Me iré despacio un amanecer
que el sol vendrá a buscarme temprano
Me iré desnudo, como llegué
Lo que me diste cabe en mi mano
Mientras tú duermes deshilaré
en tuyo y mío lo que fue nuestro
y a golpes de uñas en la pared
dejaré escrito mi ultimo verso

Y a la grupa del terral, mi chalupa
de blanca vela peinará el mar
Qué soledad te vendrá a buscar?
Cuando me vaya
Cuando me vaya

Luna tras luna, llamándome
bajaras donde el azul se rompe
El viento te abrazará de pie
hurgando el vientre del horizonte
Una sonrisa se esfumará
rozando el borde de los aleros
Tu boca amarga preguntará:
para quién brillan hoy los luceros?

Y las olas sembraran caracolas,
arenas y algas entre tus pies
Los besaran y se irán después
hacia otra playa
Cuando me vaya

Me iré silbando aquella canción
que me cantaba cuando era un crío
un marinero lleno de ron
por si en verano sentía frío
Me iré despacio y sé que quizás
te evoque triste doblando el faro
Después la aldea quedará atrás,
después el día será más claro

Y ese día, dulce melancolía,
has de arrugarte junto al hogar
sin una astilla para quemar
Cuando me vaya
Cuando me vaya

As de Espadas


Minha avó, como quase todas as avós, era muito religiosa. Em casa havia santos de todos os tipos que me olhavam, eu juro, com um sorrisinho irônico. Aprendi que eu tinha que andar com cuidado, sem aprontar. Eu não sabia como aqueles olhinhos santos me perseguiam sem mover suas cabeças. Ainda bem que na cozinha não havia santo algum. Fora do alcance do olhar divino eu aproveitava como podia, ainda que depois eu fosse obrigado a confessar meus “pecados”, e como eu tinha poucos, eu os inventava. E assim fui descobrindo que a religião era um grande invento. Aprendi a gostar de ler a bíblia. Divertia-me muito com as histórias de Lázaro, com a morte de Jesus na cruz e me fascinava a ressurreição. Domingo eu ia à missa e por incrível que pareça, eu cantava. Nunca mais esqueci aquelas músicas que às vezes me surpreendo cantando no banho. Depois de confessar meus pecados inventados eu recebia a hóstia. Gosto estranho, eu preferia tomar aquele cálice que o padre saboreava com vontade. Eu ficava na dúvida se os padres acreditavam realmente nas histórias do paraíso ou se fingiam. Do que eu tinha certeza é que saboreavam como ninguém os frutos desta vida.
Num dia de janeiro chegou Ramona de minissaia e pernas divinas. Ela foi a alegria dos meninos do bairro e a minha também: graças a ela eu teria pecados reais para confessar. Ramona era linda, tinha vinte anos e eu doze. A esta altura eu quase tinha esquecido as pernas gordas de Alicia, ainda que de manhã, quando eu acordava, olhava triste para sua casa, que permanecia fechada. Ramona morava na casa da minha avó, ela era de uma pequena cidade ao norte do país, perto da fronteira, chegava a Manágua para estudar. Sentia-me privilegiado, tendo a Ramona tão pertinho. De manhã eu podia sentir seu perfume quando ela saia do banheiro, com o cabelo longo e preto molhado. Quando chegava a noite, sentados na porta de casa, jogávamos cartas. A casa foi se enchendo da gurizada do bairro, mas Ramona era só minha e o baralho também. Aproveitei que eu dava as cartas para criar um novo jogo. Eu disse que quem encontrasse As de espadas ganharia um beijo de Ramona, evidentemente que com o consentimento e o prazer dela. É fácil adivinhar que fiz trapaça e todas as noites ganhei de Ramona seus beijos. Eu era feliz: tinha um pecado real para confessar.

Não há caminho

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Ainda Silviando

Para NatiLou

Anarquista

Faz frio. Tiro do armário meu velho blusão de lã que mais parece uma bandeira anarquista, ou sandinista: xadrez, vermelho e negro. O sol entra obliquo no meu quarto, incendiando as paredes. Ontem descobri, sem querer, que o tempo é uma densa e escura nuvem que a alegria do sol dissipa devagar, inevitável. O sol, feito estilete, arranca dela, pedacinhos, mudando o ritmo, ora devagar ou ligeirinho, dependendo do humor do astro-rei, ou do meu. No final a nuvem desaparece, o céu fica transparente e a vida volta ou se vai.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Madre

Mi unicornio azul

Ya no te espero - Silvio Rodriguez

Ya no te espero
Llegarás, pero más fuerte
Más violenta la corriente
Dibujándose en el suelo
De mi pecho, de mis dedos
Llegarás con mucha muerte

Ya no te espero
Ya eché abajo ayer mis puertas
Las ventanas bien despiertas
Al viento y al aguacero
A la selva, al sol, al fuego
Llegarás a casa abierta

Ya no te espero
Ya es el tiempo que fascina
Ya es bendición que camina
A manos del desespero
Ya es bestia de los potreros
Saltando a quien la domina

Ya no te espero
Ya estoy regresando solo
De los tiempos venideros
Ya he besado cada plomo
Con que mato y con que muero
Ya se cuándo, quién y cómo

Ya no te espero
Ya he liberado a tu patria
Hija de una espera larga
Ya hay un primero de enero
Que funda a sus compañeros
Con la sed de mi garganta

Ya no te espero
Porque de esperarte hay odio
En un noche de novios
En los hábitos del cielo
En madre de un hijo ciego
Ya soy ángel del demonio

Ya no te espero.

Ya no te espero

El Polo norte

Dirán - Pedro Guerra

terça-feira, 5 de maio de 2009

Oracion por Marilyn Monroe - Ernesto Cardenal

La lista de Osmar


Conocí Osmar en el Polo Norte, mas no hacia frio. Vi sus ojos llenarse de lágrimas cuando habló de Ernesto. Pensó que había muerto, le dije que no, que el poeta estaba vivo. Sabía de memoria la Oración para Marilyn Monroe, algo raro, que yo nunca, en mis años de estar aquí, había visto, mucho menos oído. Nunca imaginé encontrar alguien en el Polo Norte que hablara de Nicaragua, de la revolución y de sus poetas. Y yo que ni me acordaba de este poema y Osmar sabía cada frase. Después lloró de nuevo cuando hablamos de música. De la bolsa de la camisa sacó la lista de libros que iría a leer. Una lista inmensa, diversificada e interesante. No me acuerdo que autores yo mencioné y él anotó alegremente, no lo supo, pero yo también tomé nota y copié lo que pude de su lista. Uno de los libros que él ya había leído me llamó la atención: “Carassotaque” del brasileño Alfredo Aquino. El título en español sería algo así como, los hombres-acentos. Todavía no lo he leído, pero está en mi lista que de Osmar robé. Leí una reseña sobre este libro y sin duda, vale la pena leer. El libro trata del miedo, del poder y del horror a los extranjeros.
No lo dije antes, pero Osmar era filósofo, vivía en un asentamiento de trabajadores sin empleo cerca de Porto Alegre y cruzaba el Estado, de moto, sintiendo en el rostro, el viento del sur. El jueves 30 de abril un camión lo atropelló. El periódico noticiaba fríamente la muerte de un motociclista. Para muchos lectores, un nombre más en la larga lista de accidentes de tránsito.

sábado, 2 de maio de 2009

El mundo es chiquito

La vida es breve. Mayo comenzó. El tiempo se va. Me despierto, salto de la cama en desorden. Abro la ventana y me sorprendo con el lindo día que hace en Pelotas. Hago café calentando agua en el micro ondas. Enciendo la computadora que perezosamente abre la pantalla, anunciando un nuevo día, como un gallo moderno. Leo los periódicos nicas, antes incluso que mis amigos de Managua. Algo imposible hace algunos años. Me acuerdo que imploraba a mis amigos que me mandaran recortes de periódicos para saber que estaba pasando por allá. Cuando alguien me mandaba el periódico completo devoraba hasta los clasificados, los anuncios y la cartelera de cine. El milagro de la tecnología hizo el mundo más chiquito. Una computadora es una máquina del tiempo y del espacio. Desde aquí puedo leer El Clarín de Buenos Aires o el New York Times. Todos los periódicos del mundo nos alarman con la gripe porcina. Todo se globaliza. Nos sentimos tan indefensos. Es un virus nuevo resultado de mutaciones y no tenemos anticuerpos, ni gobiernos eficientes.

Os beijos dela numa noite de medo

Para Osmar


Naqueles dias Manágua tremia, mas não por causa de um terremoto. Por incrível que pareça, os tremores de terra tinham parado, protelado seu vai-e-vem, como dando um tempo, um intervalo acordado e mudo. Eu podia sentir o sabor do medo na minha boca. Um sabor impossível de descrever. Eram dias de setembro. O céu tinha uma cor esquisita que pressagiava o que viria. Aprendi a fumar por imitação, por medo ou simplesmente para, junto com a fumaça que se levantava repetir a sensação dos beijos dela. Era um mecanismo poderoso que eu tinha aprendido e que usava nessas situações. Deixava-me imune a qualquer coisa. Pelo menos eu acreditava que era assim. Os beijos dela que eu repetia, naquele medo sólido, pontiagudo, me acalmava, me fazia sentir impenetrável ou cruamente indolor. Era um segredo que eu não compartilhava com os outros. O cheiro da rua entrava furiosamente pela fendas da casa de madeira. Aprendi a escutar os outros sem que falassem, sem voz, apenas entendendo o som abafado das gargantas. O silêncio que vinha da rua me apavorava, não pelo silêncio em si, mas pelo que anunciava, sem eu sabê-lo, mas que imaginava, como tantas vezes tinha ocorrido, em outros momentos, com outros, podia ver minha foto publicada, irreconhecível, com a rigidez do instante, mas com o olhar sereno. Os donos da casa tinham desaparecido ou fingiam dormir em algum lugar. Na reduzida sala da casa Chico iniciava a leitura não sei de que texto. Ele era velho aos 27 anos. Os olhos vermelhos e cansados. Chico tinha nascido no ocidente do país, numa pequena e pobre localidade chamada Mina do Limão. Chegou a Manágua e se tornou um bom orador. Eu queria ser como ele, que eu enxergava como um irmão mais velho. No auditório lotado ele se transformava em um gigante. Agora apenas murmurava. Fazia parêntesis falando de Faulkner e Benedetti, de Sábato, Cortázar e Borges. Como era possível que no meio daquelas condições, de censura e interdição, ele podia falar de literatura. Confesso que eu não conhecia nada e depois, nas minhas impossibilidades, fugia para a biblioteca, para descobrir Borges, mas Manágua continuava tremendo. Não sei quantas horas se passaram. Quando saímos ainda estava escuro. Ninguém ainda na rua. Eu voltei aos beijos dela.