Pelotas é a cidade das bicicletas. Quem chega pela primeira vez na cidade, até estranha as bicicletas que inundam suas ruas. Bicicletas de todos os tipos cruzam a cidade: antigas, novas, monocromáticas, coloridas, sem cor, clássicas, pós-modernas. Uma em particular tem me chamado a atenção. Nela, o ciclista fica sentado, sem exagero nenhum, numa altura de quase dois metros. Um dia destes, eu fiquei observando esta singular bicicleta. Eu queria saber como ele fazia para descer da bicicleta quando, pelo movimento dos carros, era obrigado a parar. Então descobri sua estratégia: quando é obrigado a parar, se abraça ao poste de luz mais perto, e assim vai se abraçando de poste em poste numa estranha promiscuidade.
Apesar da quantidade de bicicletas na cidade, não existem ciclovias dignas desse nome. Há apenas simulações, pedaços de acostamentos disfarçados de ciclovias. As poucas “ciclovias” permanecem em estado deplorável. Por exemplo, a chamada ciclovia que se estende para a Praia do Laranjal está completamente descuidada: o mato come a faixa, e a faixa, cúmplice ou vítima se deixa comer; a areia invade furiosamente a pista. Trata-se de um perfeito simulacro de ciclovia onde os cadáveres de pequenos animais viram grandes obstáculos.
O pior é que as motos e as carroças a utilizam sem culpa nenhuma, afinal os ciclistas são praticamente invisíveis. Ao cair da tarde, voltando do Laranjal, uma motocicleta vinha voando, pela ciclovia, na minha direção. Tive que fazer sinais com minha mão para ser enxergado.
Os carros estacionam impunemente, obrigando o ciclista a sair perigosamente da ciclovia. Nas ruas de Pelotas, domina a lei do mais forte, que se impõe sobre pedestres e ciclistas.