sábado, 24 de outubro de 2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

sábado, 17 de outubro de 2009

A amendoeira



San Juan del Sur é uma praia perto da fronteira sul, daí seu nome. O lugar é lindo, rodeado de morros, mas a água é gelada. De todas as praias, além de ter a água gelada, é a mais distante e por isso também me fascinava. O mar tem uma cor verde esmeralda e a água é transparente. Quando menino, eu ia com minha avó. A viagem era longa, saíamos de tardezinha e chegávamos a meia-noite. Lembro da algazarra da véspera, organizando as coisas na mala e dos faróis do ônibus rompendo a escuridão da noite. Da janela do ônibus, conseguia enxergar, no triste silêncio da noite, a luz trêmula do lampião das pequenas casas de palha que, distantes umas das outras, se estendiam na vastidão do campo. Eu experimentava uma estranha tristeza. De repente, me sentia saindo da janela do ônibus, e me transportava para uma dessas casinhas. Via-me sentado num banco pequeno de madeira, olhando a chama do lampião, sem nada mais a fazer que olhar as sombras dançantes. Tive medo de que um dia o destino me levasse a morar numa casinha dessas, no meio do nada.
Mas essa tristeza ia embora logo. Esquecia as casinhas de palha e voltava a sentir o vento que entrava pela janela do ônibus. Estava ansioso por chegar, mergulhar nas ondas do mar e deixar que o sol queimasse minha pele.
Minha avó tinha uma enorme capacidade de fazer amizades. Em qualquer lugar, ela era recebida com os braços abertos. Eu ficava admirado. Em San Juan del Sur, ficávamos na casa da família Granja. Uma família barulhenta e alegre.
O pátio da casa virava um oceano que eu sulcava com latas de sardinhas. As redes penduradas na sala eram uma diversão. Mais ainda, quando Heloisa compartilhava comigo uma dessas redes e nos balançávamos sem parar.
Essa casa ficou na minha mente para sempre. Tanto que um dia, depois de muitos anos, eu voltei. Desta vez, sem minha avó, fiquei num hotel à beira do mar. De noite caminhei pelas ruas ainda de chão batido. Vi-me caminhar com minha avó rumo ao mar. Minha memória foi me levando pelas ruas do povoado. Localizei a casa. A mesma casa de madeira, agora era uma pizzaria. Entrei e fiquei no meio das mesas. O dono, um italiano, me olhou com cara de assombro. Juraria que vi Heloísa, sentada numa das mesas, com seus cabelos lisos, olhando para mim.
No fundo do pátio da casa havia uma enorme amendoeira. Foi nessa casa que conheci Heloísa. Lembro do nome dela que, por coincidência, era o mesmo nome da mãe da minha avó. Não recordo do rosto dela, só da sensação de estar perto dela, das cócegas que me provocavam seus cabelos lisos. Recordo que subíamos na parte mais alta da amendoeira. Dali, além dos telhados de barro, se podia enxergar o mar que brilhava como um espelho.
O vento fazia tremer a amendoeira. Nossas mãos se encontravam, de início se reconhecendo mutuamente, até ficar grudadas na eternidade de um minuto. Ouvi ela falar baixinho: “Eu serei seu mar e você meu rio”. Aquele dia as folhas da amendoeira tremeram mais forte que de costume.

Algunas frases para la reflexión

Un auténtico milagro, donde quiera que se produjese, sería un mentís que la naturaleza se daría a si misma. (Schopenhauer)

Cuando uno no tiene una vida de verdad la sustituye por un espejismo. (Chejov)

Tú no tienes necesidad de una fé, solo tienes que observar el ámbito de la verdad. (Muktananda)

Yo no creo en nada. Para mí la fe es algo tan odioso como lo es pecado para los creyentes. El que sabe, no puede creer. El que cree, no puede saber. "Fe ciega" es una tautología, pues la fe es siempre ciega. (Ernest Bornemann)

Hay tantos Dioses como almas (tradición hindú)

Si Dios es infinito, entonces caben asimismo infinitos caminos hacia él. (Ramakrisna)

Dios no es más que el espíritu humano proyectado al infinito. (Feuerbach)

Dios mueve al jugador y este, la pieza ¿qué dios detrás de Dios la trama empieza? (J. L. Borges)

¿Dioses? Tal vez los haya. Ni lo afirmo ni lo niego, porque no lo se ni tengo medios para saberlo. Pero se, porque esto me lo enseña diariamente la vida, que si existen ni se ocupan ni se preocupan de nosotros. (Epicuro)

El miedo fue lo primero que dio en el mundo nacimiento a los dioses. (Statius "Tebaida")

Si Dios no existiera habría que crearlo. (Voltaire)

Si dios existiera habría que matarlo. (Bakunin)

domingo, 11 de outubro de 2009

Eu também salgo a caminar



Sentiu a saudade como um golpe agudo, como um redemoinho, sem inicio nem fim. Outras vezes já tinha lhe acontecido. De repente, via-se só na imensidão do seu quarto. Muitas vezes pensou que o mal só aparecia nos dias frios e nublados, mas depois descobriu que a saudade podia aparecer num dia de sol, num domingo de ruas vazias.
A saudade é um mal, ele sabia disso, é como uma lepra que se estende dolorosa. Que se inicia como um ponto insignificante, imperceptível, indolor. Durante muitos anos, esse ponto pequeno, quase invisível, permaneceu num lugar da sua pele, estendendo-se, arrastando-se mudando de lugar. Um dia aparecia no braço, outro dia no lado direito do seu rosto, perto do sinal de nascença. Pensou que não ia suportar enxergar aquela saudade como uma enorme mancha, uma pinta gigantesca, abrangendo seus braços, suas pernas, seu peito. Quando olhava no espelho só enxergava aquela mancha escura e pesada que o obrigava a manter os olhos quase fechados. Era a saudade. Mas depois se recuperava. A saudade imensa, como uma pedra de granito sólida, desaparecia, se reduzia àquele pequeno ponto inicial de fácil coexistência.
Olhou para ela, que nua na cama em desordem, ainda dormia. Mas era imaginação, ou talvez recordação. Não sabia direito. Sua mente confusa lhe pregava uma peça ou várias. A mulher nua se transformava como em Kafka, num enorme bicho estranho, que movia seu ventre, para desaparecer logo. Teve medo da doença que destrói a memória e a lucidez. Estranhamente as antigas lembranças eram nítidas na sua mente. Viu-se sozinho, sentado na escuridão da casa da sua mãe. Era capaz de ouvir a pesada roda do jipe militar triturando as pequenas pedras da rua empoeirada. Com o rádio na mão, esperava ansioso a meia-noite. Nessa hora as estações de rádio da cidade saiam do ar e entrava a proibida radio Havana. Agora podia ouvir Mercedes Sosa cantar “Salgo a caminar por la cintura cosmica del sur”. Depois, abraçado a um travesseiro, dormia tranqüilo até que os galos no pátio cantassem.