A cidade arde. Derreto-me nas calçadas do centro, buscando um lugar onde almoçar. Saudades do frio e sua estética? Negativo. Nunca terei saudades do frio cortante e das roupas pesadas.
Deixo escorrer o suor leve pelas minhas costas, prefiro a estética do calor. Caminho devagar pela Andrade Neves, eu sinto o ar que vem da Lagoa esparzindo o calor. No céu azul: nenhuma nuvem.
E eu que pensava que conhecia todos os restaurantes de Pelotas. Descobri neste dia quente o restaurante japonês Shangay Sushi Lounge, que fica na esquina da Andrade Neves com a Major Cícero. Um lugar agradável, com bom atendimento e lindamente decorado.
Realmente faltava na cidade, pelo menos para mim, um restaurante japonês. Há alguns anos virei adorador de sushis e sashimis. Além de visitar sebos em Porto Alegre, para mim era quase religioso devorar salmão e atum cru. Sem alternativa em Pelotas, algumas vezes me arrisquei a fazer eu mesmo os sashimis. Não ficavam a mesma coisa, mas quebravam o galho.
Foi Angélika, assim com “k”, que me iniciou no ritual do peixe cru. Ensinou-me a devorar o sashimi de salmão, assim como eu devorava seus lábios. Ela era meio japonesa, meio alemã. Eu adorava vê-la comendo peixe cru. Quando você come peixe cru pela primeira vez, dá um grande impacto – falava ela - abrindo e fechando seus enormes olhos negros. Sempre pensei que ela usasse cílios postiços, mas não eram. Um dia aproveitei que ela dormia e estiquei seus cílios. Acordou brava, mas descobri que eram cílios legítimos. Ela tinha razão, a primeira vez que comi sashimi, o peixe cru impactou meu estomago e custou para descer pelo meu esôfago. Mas demorou pouco para descobrir o sabor incomparável do salmão cru, quase igual ao sabor dos lábios doces de Angélika.