Era tempo de férias. Por causa de Alicia, os dias pareciam intermináveis. Do contrário, os dias de férias sempre voavam e inexoravelmente, o primeiro dia de aula chegava num abrir e fechar de olhos. As ruas não eram as mesmas. Até as pessoas se comportavam de forma diferente. Ninguém vestia uniforme escolar. Eu mesmo me sentia feliz de camiseta, bermudas e tênis.
Esperar por Alicia, tornou-se meu motivo principal de cada dia. Era minha missão, meu tormento, meu prazer solitário. Na minha mente, cada beijo dela era reprisado milhares de vezes. Sabia de cor cada movimento de seus lábios e do ritmo dos seus beijos.
Voltei para casa. Meu pai, de regata e calça caqui, na máquina de costura. Da cozinha, se espalhava por toda a casa, um aroma inesquecível e que eu jamais consegui imitar. Minha mãe preparava o almoço.
Eu, como muitas crianças, vivia cheio de proibições. Entre minha casa e o lago havia uma estrada de ferro. O trem aparecia de repente, estremecendo as paredes das casas. Eu sabia que perto de meio-dia nunca passava. Elmer pareceu adivinhar minhas intenções, foi até a porta e me olhou com aquela cara de saber tudo. Não dei bola. Tentou seguir-me, mas se entreteve na esquina com uma borboleta colorida.
Ultrapassei a estrada de ferro. E correndo cheguei à beira do lago justamente quando um barco atracava no pequeno porto. Sentei-me numa pedra esperançoso de que Alicia estivesse chegando. O meu coração acelerou, pulando enlouquecido quando a vi. Ela veio direto na minha direção, me abraçou e de novo, senti seus lábios nos meus. Ela parecia ronronar e eu morria de felicidade enquanto ela encostava suas pernas gordas nas minhas. Não sei quanto tempo se passou. Eu diria que quase uma eternidade. De repente, abri os olhos e vi que Elmer tinha terminado sua refeição e ronronando, se esfregava nas minhas pernas.