quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Pólvora e mel

Ainda sentia no ar o cheiro de pólvora. As ruas abandonadas. Só ela na janela: cabelos desarrumados e a pinta resguardando sua boca, como um guardião fiel. Só estou eu na rua, mas ela não olha para mim. Estou coberto de poeira e sangue. O avião bombardeou a cidade o dia inteiro. Há escombros espalhados nas esquinas e a morte se esconde debaixo das folhas caídas que apodrecem. Olho para a janela e ela não está mais. Nem a janela, nem a casa. O bombardeio continua. Barris cheios de pólvora são despejados e explodem perto. Vejo a fumaça alcançar o céu. O estrondo me aturde. Ela está de novo na janela, desta vez sorri para mim. Afundo-me nos seus olhos de mel e desapareço com a cidade vazia.

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