Eu, por causa de Alicia, estava irremediavelmente perdido no mundo, esmagado entre a superfície brilhante do lago e o céu azul que se alçava sobre Granada. Como era possível que um par de pernas gordas tivessem me enfeitiçado para sempre – eu me perguntava - sentado no quintal da casa da minha avó. Ali, embaixo da sombra da amendoeira, eu meditava e insistia na minha obsessão. A minha avó, falava sozinha dentro de casa. O meu avô tinha morrido seis meses depois que meu pai, o filho dela. Ela falava com os dois fantasmas, às vezes brigava com eles, gritava, xingava, depois ia se acalmando sozinha, baixando a voz até se tornar um murmúrio, como de pedras finas trazidas pelo rio. Eu me dedicava a ruminar minha obsessão. O vento fresco que soprava vindo do lago e a sombra da árvore me adormeciam. Abraçava os travesseiros sonhando com as pernas gordas de Alicia.
Nunca imaginei que aquela menina tivesse o poder de me deixar enfeitiçado para a vida toda. Aquele dia mágico permaneceu inesquecível: Ela se aproximou de mim, eu como quase sempre, estava sentando nos degraus da minha casa. Ela veio de mansinho, com aqueles olhos escuros, imensos, suas sobrancelhas desbordantes, aproximando sua boca vermelha à minha. Eu sentia o cheiro dos seus cabelos, me envolvendo com seu perfume de sabonete fino. Sentia meu coração trotando incontrolável, e ela, sem falar nenhuma palavra, encostava seus lábios nos meus. Levemente, no início, quase imóveis, depois seus lábios vibravam como um detector de mentiras ou de verdades. Assim a eternidade concentrava-se num minuto. Eu sentia sua respiração, o gosto da sua boca como um veneno doce, me alimentando, me matando. Depois, as noites e sua boca ficaram se repetindo e renovando. Depois da janta, que minha avó fazia com dedicação e orgulho, mesmo que fosse apenas um arroz com galinha, eu me sentava no mesmo lugar de sempre. Sabia que ela não demoraria em chegar. Ela e a noite chegavam sem falar uma palavra sequer. Minha avó na cozinha, lavando louça e cantando uma música mexicana. Até agora não sei quantas vezes eu repeti na minha mente esses momentos, esses beijos mudos. Ainda sinto os lábios macios dela, derretendo-se na minha boca. Eu ia guardando todos esses beijos. Depois os ruminava a noite toda. De manhã, ainda sentia o sabor da boca de Alicia.
Algumas vezes tentei fazer desaparecer essa obsessão por Alicia. Foi impossível. Tentei de muitas maneiras e nada. Cada manhã eu ia ao porto do lago ver o movimento das pessoas, imaginava que algum dia Alicia poderia embarcar para ir para San Carlos ou quem sabe para Ometepe, a ilha no centro do lago com dois vulcões adormecidos.
Assim foram passando os dias, eu esperando, como uma Penélope, sentado nos cais do porto de Granada. Os únicos dias que eu não ia ao porto eram aqueles chuvosos, poucos, aliás. Quando chovia ficava esticado na cama tecendo milhares de sonhos. No centro deles, Alicia. Nos intervalos que Alicia me dava, eu lia. Nos livros que ia lendo e depois empilhando na mesa velha da minha avó, a minha personagem preferida, a única era ela: Alicia. Às vezes eu, como minha avó, murmurava baixinho: deixa-me em paz, Alicia. Depois eu me arrependia das palavras pronunciadas. Lá fora, o rio arrastava pequenas pedras finas, criando um murmúrio musical, que se confundia com o murmúrio que vinha do quarto da minha avó.
Nunca imaginei que aquela menina tivesse o poder de me deixar enfeitiçado para a vida toda. Aquele dia mágico permaneceu inesquecível: Ela se aproximou de mim, eu como quase sempre, estava sentando nos degraus da minha casa. Ela veio de mansinho, com aqueles olhos escuros, imensos, suas sobrancelhas desbordantes, aproximando sua boca vermelha à minha. Eu sentia o cheiro dos seus cabelos, me envolvendo com seu perfume de sabonete fino. Sentia meu coração trotando incontrolável, e ela, sem falar nenhuma palavra, encostava seus lábios nos meus. Levemente, no início, quase imóveis, depois seus lábios vibravam como um detector de mentiras ou de verdades. Assim a eternidade concentrava-se num minuto. Eu sentia sua respiração, o gosto da sua boca como um veneno doce, me alimentando, me matando. Depois, as noites e sua boca ficaram se repetindo e renovando. Depois da janta, que minha avó fazia com dedicação e orgulho, mesmo que fosse apenas um arroz com galinha, eu me sentava no mesmo lugar de sempre. Sabia que ela não demoraria em chegar. Ela e a noite chegavam sem falar uma palavra sequer. Minha avó na cozinha, lavando louça e cantando uma música mexicana. Até agora não sei quantas vezes eu repeti na minha mente esses momentos, esses beijos mudos. Ainda sinto os lábios macios dela, derretendo-se na minha boca. Eu ia guardando todos esses beijos. Depois os ruminava a noite toda. De manhã, ainda sentia o sabor da boca de Alicia.
Algumas vezes tentei fazer desaparecer essa obsessão por Alicia. Foi impossível. Tentei de muitas maneiras e nada. Cada manhã eu ia ao porto do lago ver o movimento das pessoas, imaginava que algum dia Alicia poderia embarcar para ir para San Carlos ou quem sabe para Ometepe, a ilha no centro do lago com dois vulcões adormecidos.
Assim foram passando os dias, eu esperando, como uma Penélope, sentado nos cais do porto de Granada. Os únicos dias que eu não ia ao porto eram aqueles chuvosos, poucos, aliás. Quando chovia ficava esticado na cama tecendo milhares de sonhos. No centro deles, Alicia. Nos intervalos que Alicia me dava, eu lia. Nos livros que ia lendo e depois empilhando na mesa velha da minha avó, a minha personagem preferida, a única era ela: Alicia. Às vezes eu, como minha avó, murmurava baixinho: deixa-me em paz, Alicia. Depois eu me arrependia das palavras pronunciadas. Lá fora, o rio arrastava pequenas pedras finas, criando um murmúrio musical, que se confundia com o murmúrio que vinha do quarto da minha avó.
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