O clima ia mudando lá fora e eu não percebia. Dentro de casa o tempo permanecia imóvel. O mundo girava em torno de uma idéia fixa com formato de boca carnuda e pernas gordas. De quando em vez, eu escutava gritos e barulhos estranhos que vinham da rua. Eu não me importava com esses gritos que depois desapareciam. E tudo ficava igual: as coisas envolvidas pelo silêncio. Mas de repente os gritos voltavam e irrompiam com frequência as noites e os dias. O tempo passava imperceptível. Eu olhava no espelho as mudanças no meu rosto e minha avó continuava com seus murmúrios incompressíveis, longos, curtos, desesperados, alegres, de festa, de morte.
Uma manhã eu percebi que o murmúrio de minha avó estava diferente, não parecia mais com o som produzido pelas pedras finas trazidas pelo rio. Era um barulho distinto, como o coro desafinado de um bando de cigarras. Algo estava mudando e eu não sabia o que era. Antes do almoço, enquanto eu lia Cem anos de solidão, esticado na minha cama, minha avó apareceu de repente no meu quarto: olhando-me fixamente, com aquele olhar que envolvia todos os detalhes do universo, ela disse energicamente: Esta semana voltamos para a capital. Era uma ordem de general travando seu último combate. Fiquei mudo, surpreso, não sabia que ela estava maquinando a idéia de voltar para Manágua. Agora sei que ela, igual que os elefantes, estava retornando para morrer. Parece que ela sentia a morte rondando. Voltamos para a capital. Deixamos Granada numa manhã cinzenta e triste de sábado. O caminhão da mudança parecia mais cheio de coisas. A minha avó gostava de juntar coisas diminutas, coloridas, de dourado brilhante. A cidade se cobriu de um nevoeiro estranho, de despedida dolorida. Mas não era uma partida definitiva, eu sabia que voltaria como de fato fiz anos depois
Uma manhã eu percebi que o murmúrio de minha avó estava diferente, não parecia mais com o som produzido pelas pedras finas trazidas pelo rio. Era um barulho distinto, como o coro desafinado de um bando de cigarras. Algo estava mudando e eu não sabia o que era. Antes do almoço, enquanto eu lia Cem anos de solidão, esticado na minha cama, minha avó apareceu de repente no meu quarto: olhando-me fixamente, com aquele olhar que envolvia todos os detalhes do universo, ela disse energicamente: Esta semana voltamos para a capital. Era uma ordem de general travando seu último combate. Fiquei mudo, surpreso, não sabia que ela estava maquinando a idéia de voltar para Manágua. Agora sei que ela, igual que os elefantes, estava retornando para morrer. Parece que ela sentia a morte rondando. Voltamos para a capital. Deixamos Granada numa manhã cinzenta e triste de sábado. O caminhão da mudança parecia mais cheio de coisas. A minha avó gostava de juntar coisas diminutas, coloridas, de dourado brilhante. A cidade se cobriu de um nevoeiro estranho, de despedida dolorida. Mas não era uma partida definitiva, eu sabia que voltaria como de fato fiz anos depois
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