Na capital, fomos morar numa casa de madeira, enorme, pintada de verde, com telhado de barro, com um pátio no centro, de muitos quartos e com uma fauna diversificada de personagens estranhos. Essa casa, eu vim a descobrir depois, se tratava de uma pensão. A pensão era administrada por dona Francisca, uma senhora gorda, que eu sempre considerei uma déspota. Nessa pensão moravam, entre outros, desde um exilado político costarriquenho até uma prostituta triste e um homossexual feio. Para eles, dona Francisca era uma mãe que abraçava a todos com seus monstruosos braços gordos. Dona Francisca tinha dois filhos. Luis, que era meio retardado, olhos de louco, descabelado e gostava andar sem sapatos. Todas as noites dona Francisca enfiava na boca do filho, comprimidos para dormir. Nas tardes, Luis ficava na porta de casa assoviando para as moças que passavam na calçada. Nos fins de semana se embebedava até cair, de quando em vez fazia escândalos e brigava com qualquer um sem motivo nenhum. Uma vez ele se apaixonou por Daisy, a prostituta triste. Bêbado entrou no quarto da dama e foi arrancado à força pela mãe, dentre as pernas de Daysi. Luis chorou a noite toda, sabia que tinha perdido a oportunidade da sua vida. Mercedes, a outra filha, tinha 28 anos e era viúva. Recém casada tinha perdido o marido num acidente espetacular. Dirigindo bêbado caiu com o veículo na cratera de um vulcão. Foi encontrado, precipício abaixo, abraçado a uma árvore, já morto. No fundo da cratera, a lagoa de água esverdeada, foi testemunha dos últimos momentos de Humberto. Foi difícil arrancar ele da árvore. Mercedes chorou em silêncio durante meses, até que um dia na cozinha de casa, me beijou.
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