Perder a neutralidade é como perder a virgindade, a gente nunca a recupera. Virgindade não tem aqui um significado que se limita ao puramente sexual, mas à inocência, à ingenuidade da infância e suas coisas. É como ainda segurar a mão de Alicia, naquela imensa casa de praia, somente ela e eu na solidão da altura daquela amendoeira, que ficava no fundo do pátio, que nós escalávamos enquanto todos dormiam a sesta depois do almoço. E assim ficávamos sem falar nada, sem pensar nada, apenas olhando o oceano por cima dos tetos das casas. Alicia balançava suavemente suas pernas gordas que eu adorava. De quando em vez eu olhava para suas bochechas, seus cílios e sua boca de sabor a manga e morangos. Envolvia-nos o silêncio morno do verão. Às vezes o canto de um galo insone quebrava o silêncio que nos inundava. As folhas da amendoeira apenas se moviam. Alicia cantarolava. Primeiro baixinho, que era impossível decifrar que música ela cantava. Ela estava feliz, eu muito mais, e os dois olhávamos além do horizonte. No mar milhões de faíscas brilhantes pulavam alegremente. “Olha os pedacinhos de sol” – disse Alicia.
Um comentário:
Muito lindo isto!!!!!!!!!!
Parabéns! Vou fuçar com o maior prazer. Bj da Lélia.
Postar um comentário