sábado, 6 de junho de 2009

Despedida

Entardece. Sentado numa padaria da Avenida, ele sente de um golpe, os estertores da última tarde que se esvai. Nada mais o prendia. Não tinha mais ninguém. Amanhã não estará mais aqui. Cansou de esperar por aquela mulher: sua mãe.
Sua mãe o abandonou na porta de uma casa, no centro da cidade. Nunca viu seu rosto, nem sentiu seu cheiro, nunca foi amamentado, nem sentiu sua mão macia, muito menos um beijo carinhoso.
Em todos estes anos, a idéia de encontrar a sua mãe, o perseguia. A estas alturas sua mãe tinha assumido tantas formas e nomes, que o limite era sua imaginação. Ele tinha imaginado sua mãe magrinha, de cabelos brancos, vendendo doces de Pelotas, no calçadão. Também a tinha imaginado, parecida com a senhora morena, que vendia chinelos de lã, na feira de domingo, aqui mesmo, nesta avenida. Mas ela nunca apareceu.
Nas ruas, aumenta o redemoinho humano. A janela da padaria parece uma tela de cinema.
Sentirei saudades - falou baixinho. A moça da mesa do lado olhou para ele.
Deteve-se em cada detalhe da rua. Na fumaça que saia dos carros barulhentos. Na parede amarela da esquina. Nas portas coloniais da fachada dos prédios. Uma moça que vinha de bicicleta parou na esquina. Liga ansiosa para alguém. Ninguém atende, seu rosto escurece tristemente.
Ele bebe um gole do café. Mastiga devagar, saboreando cada mordida.
A moça da bicicleta sorri feliz. Por fim, chegou quem esperava. Os dois, de bicicleta, passam pela janela de vidro, agora contentes.
Ele sai para a rua. Está frio. Escurece. Pela primeira vez, caia neve em Pelotas.
As árvores da avenida tristes, dele se despediram. Ia tranqüilo. Jamais voltaria.
E, arrastando sua mala, desapareceu na sombra escura da noite. Ninguém mais soube dele.

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