quinta-feira, 19 de março de 2009

As coisas perdidas

Quantas coisas perdidas. Uma rua, outra rua, um lago, uma língua. O olhar e os cheiros. O sabor da fruta que cai no quintal de casa. Os ovos das galinhas. As galinhas sem ovos. O cachorro que brinca. O barquinho no horizonte. Os morros lá no fundo. Os trilhos do trem e o trem. As lagartixas das cirurgias improvisadas. A guerra de pedras. O sangue que corre. Os ônibus em fogo. O vento nas folhas da amendoeira. As tartarugas na praça, a preguiça das árvores, o jacaré. O cinema da esquina. Os filmes de domingo de manhã. O perfume dos fantasmas do filme invadindo a sala de cinema. O medo. A missa e os mistérios dos subterrâneos da catedral. A confissão e os pecados inventados para ganhar a hóstia. A prima que me amou. Os olhos da vizinha, sua saia. O bairro que sumiu junto com os botecos e os bêbados. A poeira nos livros. A bola que pula na calçada. O natal e a supressa que não chegou. Eu menino, meu pai, eu pai. Eu, pai..

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