A cidade arde. Derreto-me nas calçadas do centro, buscando um lugar onde almoçar. Saudades do frio e sua estética? Negativo. Nunca terei saudades do frio cortante e das roupas pesadas.
Deixo escorrer o suor leve pelas minhas costas, prefiro a estética do calor. Caminho devagar pela Andrade Neves, eu sinto o ar que vem da Lagoa esparzindo o calor. No céu azul: nenhuma nuvem.
E eu que pensava que conhecia todos os restaurantes de Pelotas. Descobri neste dia quente o restaurante japonês Shangay Sushi Lounge, que fica na esquina da Andrade Neves com a Major Cícero. Um lugar agradável, com bom atendimento e lindamente decorado.
Realmente faltava na cidade, pelo menos para mim, um restaurante japonês. Há alguns anos virei adorador de sushis e sashimis. Além de visitar sebos em Porto Alegre, para mim era quase religioso devorar salmão e atum cru. Sem alternativa em Pelotas, algumas vezes me arrisquei a fazer eu mesmo os sashimis. Não ficavam a mesma coisa, mas quebravam o galho.
Foi Angélika, assim com “k”, que me iniciou no ritual do peixe cru. Ensinou-me a devorar o sashimi de salmão, assim como eu devorava seus lábios. Ela era meio japonesa, meio alemã. Eu adorava vê-la comendo peixe cru. Quando você come peixe cru pela primeira vez, dá um grande impacto – falava ela - abrindo e fechando seus enormes olhos negros. Sempre pensei que ela usasse cílios postiços, mas não eram. Um dia aproveitei que ela dormia e estiquei seus cílios. Acordou brava, mas descobri que eram cílios legítimos. Ela tinha razão, a primeira vez que comi sashimi, o peixe cru impactou meu estomago e custou para descer pelo meu esôfago. Mas demorou pouco para descobrir o sabor incomparável do salmão cru, quase igual ao sabor dos lábios doces de Angélika.
PS: A foto foi tomada emprestada do site de gastronomia: http://vg.m3gweb.com/2009/11/sushi-shangay-sushi-lounge-x-luna-inti.html
Las palabras que yo te decía, las he ido olvidando. Algunas, como cáscaras vacías quedaron en el camino; otras, como restos de sueños enterrados en viejos cementerios. Ahora, para decirte lo mismo, busco inútilmente palabras nuevas.
Es navidad y aún me veo sentado en la cuneta, de pantalones cortos, las rodillas raspadas de tanto jugar, el pelo largo. De lejos miro la catedral iluminada. Como es antes del terremoto, la ciudad todavía existe. Preparo mis propios regalos. De una pequeña piedra hago una bola de beisbol. Después tus labios tiemblan. Las calles vacías son las mismas. Tus senos me sacian. Y vuelvo de nuevo al inicio de todos los tiempos. Después me pierdo en tu sombra y me despierto en tu piel. Te daré lo que me pides.
El destierro es redondo: Un circulo, un anillo: Le dan vuelta tus pies, cruzas la tierra, No es tu tierra, Te despierta la luz, y no es tu luz, La noche llega: faltan tus estrellas, La noche llega: faltan tus estrellas, La noche llega…
Hallas hermanos: pero no es tu sangre. Eres como un fantasma avergonzado
De no amar más que a los que tanto te aman, De no amar más que a los que tanto te aman, Tanto te aman…
Y aún es tan extraño que te falten Las hostiles espinas de tu patria, El ronco desamparo de tu pueblo.
Los asuntos amargos que te esperan Y que te ladrarán desde la puerta Y que te ladrarán desde la puerta Desde la puerta.
Augusto Monterroso é o mestre do conto curto, da ironia e da sátira. É dele “O dinossauro”, o conto mais curto que eu conheço, de apenas sete palavras. Tito, como era conhecido carinhosamente, nasceu em 21 de dezembro de 1921 em Tegucigalpa, capital de Honduras. Aos quinze anos voltou para Guatemala. Mas ele se sentia guatemalteco. Foi por uma questão de tempo e acaso que nasceu em Honduras, mas não se sentia estrangeiro em nenhum lugar. “Da mesma forma que nasci em Tegucigalpa, a minha feliz chegada a este mundo, poderia ter acontecido na cidade de Guatemala. Questão de tempo e acaso... a partir da vitória da revolução sandinista, estive em várias oportunidades na Nicarágua, em nenhum momento passou pela minha mente que eu era um estrangeiro lá. E tenho sentido o mesmo na Costa Rica e em El Salvador”. Foi autodidata e leu os clássicos com paixão. Modesto e simples, amava as coisas, os animais e as palavras.
Desde 1944 mudou-se para o México onde escreveu a maior parte das suas obras. Foi diplomático do Governo guatemalteco de Jacobo Arbenz. Depois do golpe militar que derrubou Arbenz, Monterroso viveu no Chile. Admirador de Pablo Neruda, não conseguiu encontrar o poeta devido a sua timidez. “Pablo Neruda, de quem eu era admirador vivia no Chile enquanto eu estava lá, mas nunca me atrevi a visitá-lo” confessa Monterroso nas suas memórias. No Brasil foi traduzida sua obra “A ovelha negra e outras fábulas”. Tito morreu no México o dia 7 de fevereiro de 2003.
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O dinossauro
“Quando acordou, o dinossauro ainda estava ali”.
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O Espelho que não podia dormir
Havia uma vez um espelho de mão que quando ficava só e ninguém mais se olhava nele se sentia péssimo, como que não existia, e quiçá ele tinha razão, mas os outros espelhos debochavam dele, e quando pelas noites, eram guardados na mesma caixa do tocador dormiam tranquilamente satisfeitos, alheios à preocupação do neurótico.
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Epitáfio encontrado em el cementerio Monte Parnaso de San Blas, SB
Escribió una novela: dijeron que se creía Proust;
Escribió un cuento: dijeron que se creía Chejov;
Escribió una carta: dijeron que se creía Lord Chesterfield;
Escribió un diario: dijeron que se creía Pavese;
Escribió una despedida: dijeron que se creía Cervantes;
Dejo de escribir: dijeron que se creía Rimbaud;
Escribió un epitafio: dijeron que se creía difunto.
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El salto cualitativo
—¿No habrá una especie aparte de la humana —dijo ella enfurecida arrojando el periódico al bote de la basura— a la cual poder pasarse?
—¿Y por qué no a la humana? —dijo él.
Nube
La nube de verano es pasajera, así como las grandes pasiones son nubes de verano, o de invierno, según el caso.
En un lejano país existió hace muchos años una Oveja negra. Fue fusilada. Un siglo después, el rebaño arrepentido le levantó una estatua ecuestre que quedó muy bien en el parque.
Así, en lo sucesivo, cada vez que aparecían ovejas negras eran rápidamente pasadas por las armas para que las futuras generaciones de ovejas comunes y corrientes pudieran ejercitarse también en la escultura.
Tirada en el campo estaba desde hacía tiempo una Flauta que ya nadie tocaba, hasta que un día un Burro que paseaba por ahí resopló fuerte sobre ella haciéndola producir el sonido más dulce de su vida, es decir, de la vida del Burro y de la Flauta. Incapaces de comprender lo que había pasado, pues la racionalidad no era su fuerte, y ambos creían en la racionalidad, se separaron presurosos, avergonzados de lo mejor que el uno y el otro habían hecho durante su triste existencia.
Era uma vez um Raio que caiu duas vezes no mesmo lugar; mas reparou que já da primeira vez tinha feito estragos bastantes, que já não era necessário, e ficou muito deprimido.
Creo que una brizna de yerba no es menos que el camino que recorren las estrellas. Y que la hormiga es perfecta. Y que también lo son el grano de arena y el huevo del zorzal. Y que la rana es una obra maestra, digna de las más altas. Y que la zarzamora podría adornar los salones del cielo. Y que la menor articulación de mi mano puede humillar a todas las máquinas. Y que una vaca, paciendo con la cabeza baja, supera a todas las estatuas. Y que un ratón, es un milagro capaz de asombrar a millones de incrédulos.
Despedimos-nos rapidamente. Ela chorou e eu como sempre nenhuma lágrima deixei cair. Eu tinha certeza que ela me esperaria, mas a vi desaparecer no meio da multidão que se concentrava no cais. De longe vi sua silhueta de blusa branca e calça jeans. O navio já estava saindo. Eram duas da tarde e o céu estava claro. Não havia vento e o lago estava calmo. O país ainda estava em guerra. Eu calmamente lia o jornal. Havia confrontos em toda parte. Mortos e feridos no norte do país, as pontes destruídas e cooperativas agrícolas incendiadas. Na fronteira sul, mais mortes e um helicóptero, que trazia armas, foi derrubado pelos guris combatentes. Um gringo mercenário foi capturado.
As pessoas carregavam de tudo. Cestas de frutas e hortaliças, frangos e porcos. O destino era São Carlos, Rio San Juan, na fronteira sul. Passei toda a noite fazendo a viagem em uma rede balançando perigosamente. Ao amanhecer, eu cheguei em São Carlos. Ainda tinha de apanhar uma lancha para chegar à escola onde lecionava. O lugar é chamado Morrillo na beira do lago. Nesse lugar, tinha uma escola onde técnicos agrícolas e membros de cooperativas assistiam um curso de formação sócio-econômica. Estudei com eles O Capital. Descobrimos os mistérios das mercadorias e do dinheiro. À noite, montava guarda em uma trincheira para proteger a escola. Eu não tinha medo do inimigo que perambulava ao redor. Eu tinha pavor das serpentes. Felizmente nunca encontrei nenhuma. Ao amanhecer, eu ajudava a puxar as redes cheias de gaspares. O Gaspar é um peixe delicioso. É costume, salgá-lo e secá-lo ao sol. Durante um semestre em Morrillo tive uma rotina de escola e trabalho. Nos intervalos, percorria o arquipélago de Solentiname, onde Ernesto Cardenal fundou uma comunidade de camponeses. Quando eu voltei para Granada ela não me esperava. Eu a procurei em vão. No ônibus de volta para Manágua, imaginava seus cabelos lisos e soltos. E na sua pinta que embelezava seu sorriso. Cheguei em casa. Quando eu abri a porta encontrei uma carta dela. Pedia-me desculpas por não me amar. Por fim, desta vez, eu chorei.
Nos dijimos adiós rápidamente. Ella lloró y yo como siempre ninguna lágrima derramé. Sabía que ella me esperaría. La vi desaparecer en la multitud que se congregaba en el muelle. De lejos aún divisé su silueta de cotona blanca y de jeans. El barco ya iba partir. Eran las dos de la tarde y el cielo estaba limpio. No había viento y el lago estaba calmo. El país aún estaba en guerra. Yo leía el periódico con calma. Había enfrentamientos por todos lados. Muertos y heridos en el norte, destrucción de puentes y cooperativas incendiadas. En la frontera sur más muertos y un helicóptero que traía armas fue derrumbado por combatientes. Un gringo mercenario fue capturado.
La gente en el muelle cargaba de todo. Cestos llenos de frutas y verduras, gallinas y puercos. El destino era San Carlos, en el Rio San Juan que sirve de frontera sur. Pasé toda la noche haciendo la travesía en una hamaca que se balanceaba peligrosamente. Al amanecer llegué a San Carlos. Aún tenía que tomar un bote para llegar a la escuela donde daba clases. El lugar se llama Morrillo en medio del monte y a la orilla del lago. Allí había una escuela donde acudían técnicos agrícolas y miembros de cooperativas. Yo estudiaba con ellos El Capital. Descubríamos los misterios de la mercancía y el dinero. De noche hacía guardia en una trinchera para proteger la escuela. Yo no tenía miedo del enemigo que por allí andaba. Tenía terror a las serpientes. Por suerte ninguna encontré. De madrugada ayudaba a recoger las redes llenas de gaspares. El gaspar es un pescado delicioso. Es costumbre salarlo y secarlo al sol.
Durante un semestre en Morrillo tuve una rutina de estudios y trabajo. En los intervalos recorría el archipiélago de Solentiname donde Ernesto Cardenal fundó una comunidad campesina. Cuando volví a Granada ella no me esperaba. En vano la busqué. En el bus de regreso a Managua yo pensaba en sus cabellos lisos y sueltos. En su risa y en el lunar que adorna su boca. Llegué en casa. Cuando abrí la puerta encontré una carta de ella que me pedía disculpas por no quererme. Por fin, de esta vez, lloré.
Ninguém tem culpa daquilo que não fomos. Não ouve erros. Nem cálculos falhados. Sobre a estipe de papel; Apenas não somos os calculistas. Porém os calculados. Não somos os desenhistas. Mas os desenhados. E muito menos escrevemos versos. E sim somos escritos. Ninguém é culpado de nada. Neste estranhar constante. Ao longe uma chuva fina. Molha aquilo que não fomos...
Para mi corazón basta tu pecho, para tu libertad bastan mis alas. Desde mi boca llegará hasta el cielo lo que estaba dormido sobre tu alma. . Es en ti la ilusión de cada día. Llegas corno el rocío a las corolas. Socavas el horizonte con tu ausencia. Eternamente en fuga como la ola. . He dicho que cantabas en el viento como los pinos y como los mástiles. Como ellos eres alta y taciturna. Y entristeces de pronto, como un viaje. Acogedora como un viejo camino. Te pueblan ecos y voces nostálgicas. Yo desperté y a veces emigran y huyen pájaros que dormían en tu alma.
San Juan del Sur é uma praia perto da fronteira sul, daí seu nome. O lugar é lindo, rodeado de morros, mas a água é gelada. De todas as praias, além de ter a água gelada, é a mais distante e por isso também me fascinava. O mar tem uma cor verde esmeralda e a água é transparente. Quando menino, eu ia com minha avó. A viagem era longa, saíamos de tardezinha e chegávamos a meia-noite. Lembro da algazarra da véspera, organizando as coisas na mala e dos faróis do ônibus rompendo a escuridão da noite. Da janela do ônibus, conseguia enxergar, no triste silêncio da noite, a luz trêmula do lampião das pequenas casas de palha que, distantes umas das outras, se estendiam na vastidão do campo. Eu experimentava uma estranha tristeza. De repente, me sentia saindo da janela do ônibus, e me transportava para uma dessas casinhas. Via-me sentado num banco pequeno de madeira, olhando a chama do lampião, sem nada mais a fazer que olhar as sombras dançantes. Tive medo de que um dia o destino me levasse a morar numa casinha dessas, no meio do nada. Mas essa tristeza ia embora logo. Esquecia as casinhas de palha e voltava a sentir o vento que entrava pela janela do ônibus. Estava ansioso por chegar, mergulhar nas ondas do mar e deixar que o sol queimasse minha pele. Minha avó tinha uma enorme capacidade de fazer amizades. Em qualquer lugar, ela era recebida com os braços abertos. Eu ficava admirado. Em San Juan del Sur, ficávamos na casa da família Granja. Uma família barulhenta e alegre. O pátio da casa virava um oceano que eu sulcava com latas de sardinhas. As redes penduradas na sala eram uma diversão. Mais ainda, quando Heloisa compartilhava comigo uma dessas redes e nos balançávamos sem parar. Essa casa ficou na minha mente para sempre. Tanto que um dia, depois de muitos anos, eu voltei. Desta vez, sem minha avó, fiquei num hotel à beira do mar. De noite caminhei pelas ruas ainda de chão batido. Vi-me caminhar com minha avó rumo ao mar. Minha memória foi me levando pelas ruas do povoado. Localizei a casa. A mesma casa de madeira, agora era uma pizzaria. Entrei e fiquei no meio das mesas. O dono, um italiano, me olhou com cara de assombro. Juraria que vi Heloísa, sentada numa das mesas, com seus cabelos lisos, olhando para mim. No fundo do pátio da casa havia uma enorme amendoeira. Foi nessa casa que conheci Heloísa. Lembro do nome dela que, por coincidência, era o mesmo nome da mãe da minha avó. Não recordo do rosto dela, só da sensação de estar perto dela, das cócegas que me provocavam seus cabelos lisos. Recordo que subíamos na parte mais alta da amendoeira. Dali, além dos telhados de barro, se podia enxergar o mar que brilhava como um espelho. O vento fazia tremer a amendoeira. Nossas mãos se encontravam, de início se reconhecendo mutuamente, até ficar grudadas na eternidade de um minuto. Ouvi ela falar baixinho: “Eu serei seu mar e você meu rio”. Aquele dia as folhas da amendoeira tremeram mais forte que de costume.
Un auténtico milagro, donde quiera que se produjese, sería un mentís que la naturaleza se daría a si misma. (Schopenhauer)
Cuando uno no tiene una vida de verdad la sustituye por un espejismo. (Chejov)
Tú no tienes necesidad de una fé, solo tienes que observar el ámbito de la verdad. (Muktananda)
Yo no creo en nada. Para mí la fe es algo tan odioso como lo es pecado para los creyentes. El que sabe, no puede creer. El que cree, no puede saber. "Fe ciega" es una tautología, pues la fe es siempre ciega. (Ernest Bornemann)
Hay tantos Dioses como almas (tradición hindú)
Si Dios es infinito, entonces caben asimismo infinitos caminos hacia él. (Ramakrisna)
Dios no es más que el espíritu humano proyectado al infinito. (Feuerbach)
Dios mueve al jugador y este, la pieza ¿qué dios detrás de Dios la trama empieza? (J. L. Borges)
¿Dioses? Tal vez los haya. Ni lo afirmo ni lo niego, porque no lo se ni tengo medios para saberlo. Pero se, porque esto me lo enseña diariamente la vida, que si existen ni se ocupan ni se preocupan de nosotros. (Epicuro)
El miedo fue lo primero que dio en el mundo nacimiento a los dioses. (Statius "Tebaida")
Si Dios no existiera habría que crearlo. (Voltaire)
Sentiu a saudade como um golpe agudo, como um redemoinho, sem inicio nem fim. Outras vezes já tinha lhe acontecido. De repente, via-se só na imensidão do seu quarto. Muitas vezes pensou que o mal só aparecia nos dias frios e nublados, mas depois descobriu que a saudade podia aparecer num dia de sol, num domingo de ruas vazias. A saudade é um mal, ele sabia disso, é como uma lepra que se estende dolorosa. Que se inicia como um ponto insignificante, imperceptível, indolor. Durante muitos anos, esse ponto pequeno, quase invisível, permaneceu num lugar da sua pele, estendendo-se, arrastando-se mudando de lugar. Um dia aparecia no braço, outro dia no lado direito do seu rosto, perto do sinal de nascença. Pensou que não ia suportar enxergar aquela saudade como uma enorme mancha, uma pinta gigantesca, abrangendo seus braços, suas pernas, seu peito. Quando olhava no espelho só enxergava aquela mancha escura e pesada que o obrigava a manter os olhos quase fechados. Era a saudade. Mas depois se recuperava. A saudade imensa, como uma pedra de granito sólida, desaparecia, se reduzia àquele pequeno ponto inicial de fácil coexistência. Olhou para ela, que nua na cama em desordem, ainda dormia. Mas era imaginação, ou talvez recordação. Não sabia direito. Sua mente confusa lhe pregava uma peça ou várias. A mulher nua se transformava como em Kafka, num enorme bicho estranho, que movia seu ventre, para desaparecer logo. Teve medo da doença que destrói a memória e a lucidez. Estranhamente as antigas lembranças eram nítidas na sua mente. Viu-se sozinho, sentado na escuridão da casa da sua mãe. Era capaz de ouvir a pesada roda do jipe militar triturando as pequenas pedras da rua empoeirada. Com o rádio na mão, esperava ansioso a meia-noite. Nessa hora as estações de rádio da cidade saiam do ar e entrava a proibida radio Havana. Agora podia ouvir Mercedes Sosa cantar “Salgo a caminar por la cintura cosmica del sur”. Depois, abraçado a um travesseiro, dormia tranqüilo até que os galos no pátio cantassem.
Ando como hormiguita por tu espalda, ando por la quebrada dulce de la seda. Vengo de las alturas de tus nalgas hacia el oro que se derrama y se me enreda.
Tú te vuelves pidiendo el cielo, apuntando a la luz con flores. Y como lazarillos son los sabores en tu jardín de anhelos
Tú sentada en una silla yo de pie con expresión de lord tu desnuda y con sombrilla yo vestido pero con calor.
Tú con uñas y con dientes mirándome de frente con brillo de matar. Yo retrocediendo un poco llenándome de un loco deseo de sangrar.
Tú besando tus rodillas yo discreto pero sin rubor tú creando maravillas yo soñándome esquimal sin sol.
Tú con un ritmo tan lento buscando un alimento frotado con alcohol. Yo de pronto ensimismado mirándote alelado colmada de licor.
Tú ardiente y sin capilla yo quitándome el sombrero alón tú dispuesta la vajilla yo al filo de mi pantalón.
Yo a punto del delirio extraigo un solo cirio que poso ante tu flor. Tú susurrando un misterio de un no sé qué venéreo me das un protector.
Quiero escribir un poco más de Chico y compartir con todos un puñado de recuerdos sueltos. Como he dicho, a veces Chico y yo nos escapábamos y recorríamos algunos lugares de Managua. No me acuerdo bien, pero creo que después que cumplíamos lo que teníamos que hacer, cambio de informaciones y de orientaciones, o entrega de correo que yo llevaba no me acuerdo a quien. Tampoco me acuerdo en que época fue eso, creo que fui en el 78. Nos íbamos por ejemplo, al mercado oriental. Tomábamos sopa de res o de cola. Me acuerdo exactamente del lugar. Andábamos en medio de la multitud, tal vez él estaba dando tiempo para un nuevo contacto, que imagino tenia próximo de allí. Entonces aprovechábamos esos intervalos. Chico hasta bromeaba con las vendedoras del mercado. Yo apenas observaba. Una vez fuimos al cine a ver Encuentros cercanos del tercer tipo. Había una fila enorme. No nos gustó la película y salimos a la mitad. Eso fue en aquel cine que quedaba cerca de Loma Verde. No me acuerdo del nombre de ese cine y si todavía funciona o si, como el Rex, hoy es un templo evangélico. Cuando pasábamos por el edificio del Banic, en la carretera Masaya, él decía que allí seria el local de la juventud revolucionaria. Era un edificio moderno, con fachada de vidrio y bonito. Después del triunfo me acordaba de eso que él me decía, pero el mismo edificio continuaba siendo del Banic. Pero el momento más terrible que viví con Chico fue en un contacto frente al cine de Bello Horizonte. Chico lloró y casi me hace llorar. Acababa de morir Oscar Robelo, que era muy amigo de Chico. Creo que fue un día después que Oscar murió que nos encontramos en Bello Horizonte. Chico me habló de Oscar. Y me acuerdo muy bien lo que me dice. Me dijo, ya con los ojos llenos de lágrimas, que tenía la imagen de Oscar riéndose. Y que Oscar se reía moviendo la barriga. No sé si es verdad, pero es esa la imagen que había quedado en la mente de Chico. Y durante mucho tiempo quedó en mi esa imagen, que creo nunca conté para nadie, la imagen de Chico llorando por Oscar. Después nos perdimos en las calles polvorientas del barrio de Santa Rosa. Una vez me contó que había dejado una novia en León o en Mina El Limón, no sé. Pero que la había dejado o terminado con ella. Entendí que era alguien que no militaba y que, además de su venida a Managua, había provocado el distanciamiento. Y decía que de ella se acordaba con la canción de Roberto Carlos “Detalles”. Y cantaba aquella frase
“No ganas al intentar el olvidarme durante mucho tiempo en tu vida yo voy a vivir detalles tan pequeños de los dos son cosas muy grandes para olvidar y a toda hora van a estar presentes, ya lo veras si otro hombre apareciera por tu ruta y esto te trajese recuerdos míos, la culpa es tuya el ruido enloquecedor de su auto será la causa obligada o algo así inmediatamente tu vas a acordarte de mí”
Desconozco el motivo por el cual guardamos algunos recuerdos mientras otros desaparecen para siempre. Por lo menos es esa la sensación que tengo, pero la verdad es que los recuerdos siempre están guardados en algún lugar de la mente, basta saber encontrarlos y sacarlos a luz. Cuando Ulises llegó a la universidad, creo que era 1977, no sabía usar el megáfono. En poco tiempo era el dueño de los pasillos de la UNAN. Los estudiantes nunca más fueron los mismos. Ulises era así, agitado, firme, con una energía concentrada que iba se disipando poco a poco, contaminando todo lo que se encontraba alrededor. Cuando fue electo presidente del Básico llegó a su casa adonde su mama lo esperaba preocupada. Él la contentó diciendo “pero ganamos”. En medio de los pasillos 5 y 6 del Recinto universitario, todavía veo al chino sentado con su eterna camisa negra, leyendo algún libro o con la mirada perdida en los detalles de la falda de alguna estudiante. Una imagen que se me quedó, bailando en mi mente y así permaneció por mucho tiempo, fue cuando llegaron dos muchachas sonriendo, felices, eran la Dorestela y la Mayra. Yo estaba en una mesa dando informaciones de matrículas a los alumnos del básico. Era una actividad puramente gremial. Las dos llegaron e iluminaron aquella tarde. Veo aún a Hulasko con el pelo alborotado, y su cotona bordada, contando los días de la huelga de hambre de Tomás Borge. En el colegio leí el Estado y la revolución. Era 1975 y yo estaba en un círculo de estudio. Ese mismo año, creo que fue en julio, llegué a la UNAN y conocí Chico. Estaba en el CUUN. Fui a traer unos paquetes de papeletas para distribuirlas en los colegios. Después nos hicimos amigos y fue mi responsable. A veces nos escapábamos e íbamos a jugar billar. Un día fuimos a un billar cerca de la Salvadorita. Tomamos una cerveza. No habíamos comido nada, y como ninguno de los dos sabía jugar billar, nos corrieron.
El otro dia, vi Taare Zameen Par- Cada niño es especial, o “Como estrellas en la Tierra”, una película de la India. Confieso que difícilmente lloro, pero esta vez mis lágrimas corrieron en mi rostro, al mismo tiempo en que mi alma se hundía en el viejo sofá de la sala. Ishaan Awasthi es un niño de nueve años que está repitiendo el tercer grado. Y como las cosas van, Ishaan repetirá de nuevo. Él sufre de dislexia y el padre piensa que necesita más disciplina. Las letras bailan delante de él y mis lágrimas las imitan. Las palabras cobran vida, dejando un rastro de mil colores. El niño no puede descifrar el significado de las palabras. Las clases son incomprensibles y el mundo se ha vuelto hostil. Multiplicar 9 X 3 es un viaje cósmico, y el resultado no puede ser otro que 3. Está aterrorizado, mientras los otros niños ríen sin parar. Cuando vuelve a casa, el padre lo regaña fuertemente. El padre desesperado está preocupado porque su hijo no podrá vencer en el competitivo mercado de trabajo. Todo esto contrasta con las notas altas de su hermano mayor. Por último, el padre decide enviarle a un internado. El niño se resiste, no quiere separarse de la familia. El director del colegio interno declara que allí “se doman hasta caballos salvajes”. El niño deprimido, desesperado, incomprendido es abandonado. Es castigado duramente. Abandona la pintura, la única actividad que hacía con placer y que de forma increíble pasa inadvertida para los profesores y los propios padres. Ya está al borde del precipicio, cuando llega un nuevo profesor que se da cuenta del problema de Ishaan, precisamente porque él mismo sufrió en su infancia del mismo problema. Es una película excelente, imperdible, indispensable. En Brasil hay una campaña para exhibir esta película en los cines del País. No sé si ha llegado a otros países, la recomiendo.
Há uma campanha promovida pelo blog de Ibirá Machadocinemaindiano.blogspot.com/ para trazer ao Brasil o filme indiano Taare Zameen Par- toda criança é especial. E merece todo nosso apoio. Não sei os motivos pelos quais este excelente filme, lançado na Índia em dezembro de 2007, ainda não foi exibido nos cinemas brasileiros.
Ontem assistiTaare Zameen Par- toda criança é especial, um filme indiano, e confesso que chorei com minha alma afundada no sofá. Ishaan Awasthi é um menino indiano de nove anos que está repetindo a terceira série. E tudo indica que Ishaan a repetirá ainda mais uma vez. Ele sofre de dislexia e o pai acha que falta mais disciplina. As letras dançam na sua frente, igual que minhas lágrimas. As palavras ganham vida e voam deixando rastros coloridos. O menino não consegue decifrar os significados das palavras. As aulas são incompreensíveis e o mundo se tornou hostil. Multiplicar 9 X 3 é uma viagem galáctica, e o resultado dessa soma só pode ser 3. Ele fica apavorado enquanto os outros riem. É recebido em casa, com violentos xingamentos pelo pai desesperado. O pai teme que no futuro, o filho não poderá competir no mercado de trabalho. Tudo isso contrasta com as excelentes notas do irmão mais velho. Por fim, o pai decide enviá-lo a um internato. O menino reluta, não quer se separar da família. O diretor do internato explicita a política do local: “aqui domamos até cavalos selvagens”. O menino entra em depressão, desesperado, incompreendido, abandonado. É castigado duramente com fortes palmatórias. Abandona a pintura, a única atividade que ele fazia, gostava e que, incrivelmente passa despercebida, para os pais e professores. Estando à beira do abismo aparece um professor substituto que percebe o problema de Ishaan, precisamente porque ele mesmo sofreu na sua infância de dislexia. É um filme excelente, imperdível, indispensável.
Quando menos esperava, chegaram as duas num único instante, como um impossível orgasmo simultâneo, gêmeas, distintas. Uma era igual ao sol de Abril sobre Granada, a outra como o brilho da Lua sobre a superfície calma da lagoa dos patos. Num banco da universidade, eu meditava, perdendo o tempo, numa manhã entediante de julho. As folhas teciam no chão, um imenso tapete colorido. Assim, de repente, sem avisar, apareceram as duas. A Dora de blusa branca bordada e de calça jeans, de sandálias de couro, unhas pintadas de rosa, rabo de cavalo. A Estela, de saia azul, tênis brancos, boca vermelha. As duas se aproximaram, sorrindo, como dançando, me perguntaram não sei que coisa, e eu paralisado fiquei mudo. Ficaram tão perto de mim, que senti de golpe, um perfume que eu nunca tinha sentido antes, uma mistura de flores e frutas exóticas, de floresta, de chuva, de mar. Perguntei seus nomes. Stela – disse uma delas. Estela - repeti. Não - disse ela, Stela, sem “E”. Meu pai adorava a famosa atriz italiana Stela C., por isso eu sou Stela sem “E”. Dora permanecia em silêncio, observando tudo, me absorvendo com seus imensos olhos negros, o vento soprava cúmplice. Não tinha mais ninguém nos espaçosos corredores da universidade. As duas estavam apaixonadas por mim - imaginei. Que sorte a minha, pensei que era um sonho, um doce sonho duplo, como aqueles sonhos que eu tinha de vez quando, sonhos de olhos abertos, mas não, era realidade, as duas estavam frente a mim, pertinho, deixando cair sobre meu rosto, sua respiração sincronizada. Eu sabia que inevitavelmente amaria as duas e elas a mim. Até pouco tempo atrás, eu estava solitário naquela universidade, sem rumo, sem nada, e em um piscar de olhos, diante de mim, duas mulheres surpreendentes, pertinho de mim, grudadas. Eu tinha chegado há um ano à universidade, elas eram recém chegadas e deslumbradas com tudo, inclusive comigo - pensei. Eu era o típico universitário, cabeludo, de jeans e camiseta branca, de tênis e óculos escuros. Desta vez, o mundo era perfeito. A Dora preocupada com os problemas da mente humana iniciou o curso de psicologia, Stela apaixonada por pintura fazia Artes e letras. Eu, sem muita convicção, continuei fazendo jornalismo. Um dia, cheias de felicidade me comunicaram que tinham conseguido uma casa linda, na estrada que leva para o mar, onde poderíamos morar os três. Um mês depois, já estávamos instalados. Todas as manhãs a Dora cuidava das plantas e flores, tinha um carinho muito especial pelas violetas. A Stella, que tinha adicionado mais um “l” a seu nome, pintava paisagens extraordinárias. Eu descobri o paraíso, a vida era bela. Acordávamos cedo e eu fazia o café na cafeteira italiana, presente do pai de Stella. Depois, deitado na rede, lia Tchekhov. Tudo era perfeito, mas um dia o mundo começou a desabar. Eu continuei fazendo café, mas Stella não pintava mais e nem Dora cuidava do jardim. As flores e plantas murcharam. Uma manhã de outubro me acordaram. Ainda meio dormido vi as duas vestidas de jeans e jaquetas, com as mochilas prontas. Disseram-me que iam embora e para meu bem, não diriam para onde, que mandariam notícias. Fiquei arrasado, meu paraíso se afundou. O país estava convulsionado. Tinha explodido a guerra e as aulas foram suspensas. Continuei fazendo café e lendo Tchekhov na rede. Ligava o rádio e escutava as notícias de uma guerra que eu não compreendia. Passaram as semanas e não recebi nenhuma notícia delas. Três meses depois, no rádio anunciaram a vitória da revolução. Demorei a descobrir que estava ocorrendo uma revolução no país. Corri para a praça da revolução onde a multidão explodia em canções e agitava alegremente bandeiras vermelhas. Voltei para casa com a esperança de encontrar a Dora e Stella, mas o tempo passou e nada delas aparecer. As aulas reiniciaram e eu consegui terminar meu curso de jornalismo, me mudei. Passei um tempo buscando emprego. Quando voltava da rua, cansado, ouvia Bob Marley e pensava em Dora e Stella. As duas gostavam especialmente de “Three little birds”, ainda me parece vê-las dançando e cantando. No dia seguinte, como quase todas as manhãs, saí a buscar emprego. No mesmo bairro onde eu morava, tinha uma casa de madeira, pintada de branco, com uma sigla PRT, e um anúncio: Precisa-se de jornalista. Era o que eu mais desejava no mundo. Na verdade, a segunda coisa que eu mais desejava. A primeira era encontrar Dora e Stella. Eu amava as duas, nem uma mais que a outra. As duas por igual. Entrei tímido na casa, na sala, me recebeu um homem magro, com um bigode incipiente, chamado Molotov. Expliquei que eu estava interessado no anúncio. Fiquei mais de uma hora respondendo às perguntas mais estranhas do mundo. Por fim, e para minha alegria, começaria a trabalhar no dia seguinte. Apesar do salário minúsculo, eu estava feliz, era meu primeiro emprego. Sabia que trabalharia em um pequeno partido de esquerda, mesmo eu não sendo militante, fui me envolvendo com as matérias que escrevia. Entrevistei dirigentes operários, representantes do movimento estudantil, lideres comunitários. Nesse momento, nos anos 80, tinha uma ditadura em El Salvador e escrevi uma matéria exigindo a ruptura de relações diplomáticas do novo governo revolucionário com a ditadura daquele país. Eu não estava convencido da eficácia dessa consigna, mesmo assim me esforcei e gostei como ficou a matéria. Outra matéria que escrevi foi sobre a invasão russa ao Afeganistão, pesquisei muito para mostrar que aquela invasão militar era imperialista e que perseguia a dominação de um povo, nada tinha de revolucionária. Assim fui garantindo matérias para “O Socialista” nome do semanário. Era uma correria, eu fazia de tripas coração para poder garantir sua publicação. Apesar de tudo isso, o semanário foi se tornado incômodo para as novas autoridades revolucionárias. Eu fui nomeado editor. Um dia recebemos uma carta da Secretaria de Meios de Comunicação do governo, nos citando urgente. Quando cheguei à sede do partido, Molotov tinha cara de preocupação. “Como Editor do semanário, você terá que ir” - me disse. Isso eu já imaginava. Ao dia seguinte, fui à Secretaria de comunicação. Fiquei sentado esperando mais de duas horas, ainda bem que tinha levado Tchekhov. Uma secretária me chamou mencionando meu nome e me chamando de editor do “O Socialista”, sem esconder a ironia. Entrei na sala onde me aguardava a secretária de Meios de Comunicação do governo revolucionário. Pediu-me para sentar, o que fiz sem deixar de olhar para aquela mulher bonita, de uniforme verde-oliva e de imensos olhos negros, estranhamente familiares. Ficamos uns minutos em silêncio. Ela finalmente disse, com uma voz enérgica: “Você não pode continuar publicando esse semanário”. Nesse instante, um turbilhão arrasou minha alma quando descobri que aquela mulher era Dora. O mundo desabou de novo, não voltei à sede do partido e voltei para o banco solitário da universidade. No chão, as folhas formavam um imenso tapete colorido e ainda era a mesma manhã entediante de julho.
O frio acabou lá fora e a vida recomeça com o calor de teus lábios. Aqueço-me, esqueço-te. Na minha cabeça, o tempo estoura, espalhando as horas que, em desordem, vou juntando e grudo nas paredes. O relógio anda para trás, pior: sem rumo, enlouquecido, quase como eu. É madrugada e escuto o barulho dos feirantes na rua ainda escura. Dormi pouco, nada e tu não estás. Não estarás mais. Como sempre, como nunca. Abraço o travesseiro de penas e tento dormir. Envolvo-me na tua pele transparente, inexistente. Por fim, adormeço, flutuo no teto branco da sala. Sinto de novo tuas mãos: pássaros rebeldes, invisíveis, invencíveis. Acordo. Abro as janelas. O sol, vestido de festa, dança anunciando a primavera.
Cada qual com sua mania o gosto não se discute. Artefatos, bestas, homens e mulheres cada um é como é cada um é cada qual e se manda pela escada como quer.
Mas se tiver que escolher, sou partidário das vozes vivas da rua, mais que do dicionário. E gosto mais do bairros que do centro da cidade e dos artesãos mais que da feitoria. Da razão que da força, do instinto que da urbanidade, e dos indios que do Sétimo de Cavalaria. Prefiro os caminhos às fronteiras e uma borboleta ao Rockefeller Center e o faroleiro de Capdepera aos vigias do Ocidente.
Prefiro querer a poder. Tatear a pisar. Amar a querer. Pegar a pedir. Dançar a desfilar e desfrutar a medir. Prefiro voar a correr. Fazer a pensar. Beijar a brigar. Ganhar a perder. Mais do que tudo, sou partidário de viver.
Cada qual com sua mania o gosto não se discute. Artefatos, bestas, homens e mulheres cada um é como é cada um é cada qual e se manda pela escada como quer.
Mas se tiver que escolher, prefiro um bombeiro a um bombardeiro e um suspiro a um vampiro. Crescer a sossegar, prefiro a carne ao metal e tua casinha a um castelo. A pinta da tua cara à pinacoteca nacional e a revolução aos pesadelos. Prefiro o tempo ao ouro, a vida ao sonho, o cão a coleira, as nozes ao ruïdo e o sabio por conhecer aos malucos conhecidos.
Prefiro querer a poder. Tatear a pisar. Amar a querer. Pegar a pedir. Dançar a desfilar e desfrutar a medir. Prefiro voar a correr. Fazer a pensar. Beijar a brigar. Ganhar a perder. Mais do que tudo, sou partidário de viver.
Queriendo verme tranquilo en este nuevo lugar en este sitio perdido del mundo.
Amando mucho a la chica que no puedo ver a mi mejor bailarina lejana.
En esta jaula llamada hotel, donde soy como un canario, en esta pausa de la tournée, donde cambio de escenario, en esta cama enorme y con teléfono a mi lado, mientras pienso tomar un té bien caliente y bien cargado.
Tratando de no pasarme de velocidad y de comer una cosa ligera.
Y deseando cargarme la tonalidad de esta emisora de lengua extranjera.
Arte de escapar de la depresión es un arte la contención del llanto, arte de vivir y de no pensar, de pactar con la soledad, de aprender a resucitar cada día de la vida.
En esta jaula llamada hotel vuelvo a descubrir la infancia mirando a la mariposa que vuela sobre la almohada, dentro de mi guitarra está un violín adormecido un sonido de claxon va desviando mi destino.
Tratando de no pasarme de velocidad y de comer una cosa ligera.
Y deseando cargarme la tonalidad de esta emisora de lengua extranjera.
Arte de escapar de la depresión es un arte la contención del llanto, arte de vivir y de no pensar, de pactar con la soledad de aprender a resucitar cada día de la vida.
Queriendo verme tranquilo en este nuevo lugar en este sitio perdido del mundo.
Amando mucho a la chica que no puedo ver a mi mejor bailarina lejana.
Parece que o golpe militar em Honduras, abriu uma caixa repleta de preconceitos e absurdos, que os pompeus conhecidos, desde a posição privilegiada que ocupam, se apressam em recolher e difundir. No seu último artigo, Pompeu, com disfarçada objetividade jornalística, mas cheio de preconceitos, ataca Honduras e a América Central. Tenho certeza que nunca esteve por lá. Segundo ele, Honduras é uma aberração. América Central é uma aberração. A afirmação é gratuita, mas que cumpre seu objetivo, utilizando a “estratégia de choque” que alguns jornalistas estão aderindo, como uma forma eficaz de chamar a atenção para eles mesmos, não importa a que custo. Afinal, o que importa é estar bem cotado no mercado.
Compadre guardabarranco hermano de viento, de canto y de luz, decime si en tus andanzas viste una chavala llamada Arlen Siu.
Yo vide zenzontle amigo una estrella dulce en el cañaveral saeta de mil colores dentro los rumores del pajonal.
Enterró en el hueco de su guitarra el lucero limpio de su corazón se fue río arriba pa' la sabana como un lirio de agua serenito.
Dice Martiniano que en la montaña revolucionario todo es allí, que anda clandestina una mariposa y su responsable es un colibrí, que anda clandestina una mariposa y su responsable es un colibrí.
Compadre guardabarranco a'i usted perdone mi curiosidad como era la guerrillera que según sus señas pasó por allá.
Le cuento zenzontle amigo que donde la chinita peleó hasta el Final nació un manantial quedito que a cada ratito le viene a cantar.
Enterró en el hueco de su guitarra el lucero limpio de su corazón se fue río arriba pa' la sabana como un lirio de agua serenito.
Dice Martiniano que en la montaña revolucionario todo es allí, que anda clandestina una mariposa y su responsable es un colibrí, que anda clandestina una mariposa y su responsable es un colibrí.
Trinta anos não é nada. Em julho de 1979, um movimento de massas derrubou uma ditadura de mais de quarenta anos na Nicarágua. A América toda tremeu. A sandinista foi a última revolução do século XXI. As folhas do calendário caíram inclementes, enchendo praças, ruas e velhos corações absortos. A vida é apenas um sopro e os guris de ontem, ainda esperam - como disse Gardel – a volta do primeiro amor. Um amor que se foi e nunca voltará. E se volta, o faz como uma miragem ou uma farsa.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Acreditem ou não, mas essa frase é dita por um jornalista que publica numa das revistas de maior circulação do País.
"Chico é um idiota político. Foi e ainda é propagandista de uma das ditaduras mais assassinas da terra: a de Fidel Castro, em Cuba. Não! Isso não faz dele um mau romancista. O que o torna um mau romancista são seus romances ruins. Sua parvoíce ideológica também não compromete a qualidade de suas músicas — das líricas, ao menos, não; as políticas são de doer".
No domingo, 28 de junho, os militares destituíram o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, inaugurando um novo tipo de golpe militar. Os golpistas de hoje contaram com o apoio direto do poder judiciário e do congresso. Na madrugada de domingo, mais de cem soldados, entraram violentamente na residência de Zelaya. Apontaram os fuzis para seu rosto e ameaçaram disparar. Os vinte soldados da guarda presidencial, que protegiam a residência, foram desarmados, amarrados e levados para algum lugar desconhecido. Ainda de pijama, Zelaya foi tirado à força e expulso do país. No velho estilo, os militares golpistas estão controlando as fronteiras, fecharam os meios de comunicação independentes, bloquearam as ligações telefônicas e a internet. Nas ruas, os militares confiscam as câmeras dos jornalistas e reprimem os protestos. Algumas notícias informam a existência de feridos nos confrontos. Roberto Micheletti, o “novo presidente”, nega a existência de um golpe de estado, porque segundo ele, a ação foi feita amparada na constituição. Depois de permanecer submerso nas profundezas, volta o velho estilo de resolver as questões políticas pela força militar.
Quédate a dormir – le dijo. Ella lo miró fríamente, ahora vestida. Afuera el frio congelaba el viento. La calle estaba ya llena de madrugada. Él contó que el frio y las calles vacías, la harían desistir. Pero, se equivocaba. Él insistió de nuevo, buscando sus ojos en vano. Prometió café y torta de chocolate, ya que sus besos, ella no quería más. Sabía que ella no lo amaba, él tampoco a ella. Al final se resignó, más una noche sólo, no haría diferencia. Salieron juntos en silencio. Él le abrió la puerta, ella sin mirarlo, se perdió en la madrugada.
Se você não pode vencer seu inimigo, junte-se a ele. Este é um ditado interessante, mas duvidoso. Como alguém pode se juntar a seu inimigo sem que deixe de sê-lo. Mas o inimigo não é, necessariamente, uma pessoa, pode ser uma coisa, o tempo, o clima, a chuva, o frio. O frio é uma espécie de inimigo que se tornou íntimo. Eu acho que estou aprendendo a ver seu lado bom. Nestes dias, cheguei à conclusão que existe um lado bom do frio, apesar de que eu não fui fabricado para este clima. Eu fui desenhado para passear pelos trópicos e não por climas gélidos. Tenho aprendido que o ser humano tem uma inimaginável capacidade de se adaptar a qualquer coisa. Se ele não faz isso, desaparece. Quantos não passaram pelas piores condições e sobreviveram a elas? Lembro de Nelson Mandela e seus mais de vinte anos de cativeiro. Então descubro que, em algum lugar tenho um comando, um mecanismo, que de forma inconsciente começa a funcionar, absorvendo o meio ou o ambiente todo. Assim foi na guerra e na fome da guerra, no terremoto ou no exílio voluntário. O mundo é uma surpresa e a vida que queremos e imaginamos pode estar num ponto no infinito, e um dia, ao acordar de manhã, decidimos ir buscá-lo. Coisas simples podem desmanchar um ambiente adverso. Somente precisamos saber quais são e como encontrá-las. E "por supuesto", como e quando usá-las. Uma taça de vinho e uma tigela de sopa podem desmanchar a solidão do frio. Numa noite de frio é imprescindível ter a mão uma mulher nua, como disse Mario Benedetti, ou um cobertor de orelhas, como dizem, naquela canção, os guris de Pelotas: Kleiton e Kledir. Numa das minhas viagens a Manágua, levei para lá, uma fita de Kleiton e Kledir. A fita ficou gasta de tanto ouvir. A vizinha de minha mãe, uma guria gorda, a Matilda, filha da senhora que vendia verduras no mercado, adorou as músicas que cantava de jeito engraçado. Primeiro implorou, mas depois exigiu que eu traduzisse a letra de “Deu pra ti”. Senti seu enorme peso sobre mim e o cheiro de camomila de seus cabelos. Ela continuou demandando, batendo pé. Mas como eu ia traduzir algo intraduzível. “Deu pra ti” é impossível de traduzir. Eu inventei alguma coisa que nem lembro. Eu disse para ela que “Deu pra ti” significava “Adiós para ti”. Ela não acreditou. Achou que significava algo mais bonito do que isso, e com certeza é.
Nuestro tema está cantado por arena espuma y aves del amanecer nuestro tema está listo para ser brisa de las alas migratorias nuestro tema es para ver llover.
Nuestro tema está desnudo en un balcón fotografiando espigas de la mar nuestro tema está viéndonos juntar besos a las seis de la mañana nuestro tema es para recordar.
Nuestro tema de amor tiene quebrantos pero su empeño sana el dolor.
Nuestro tema de amor nos cuesta tanto que ya es un sueño y una canción.
Nuestro tema está en un sólo de piano y en el labio más abrasador nuestro tema está en el corredor de un hotel que se ha quedado solo nuestro tema es humedad de amor.
Chegou o inverno, mas hoje faz calor na cidade da contradição. Na beira da lagoa, eu divago. Vejo o tempo parar, mas é a magia do lugar que deixa as coisas paralisadas ou inanimadas. Decido caminhar no trapiche que entra sem piedade lagoa adentro. A solidão do céu refletido no espelho da água me estremece e me perturba. Um bando de patos alvoroçados rompe o silêncio, parece que eles terminaram sua missão e fazendo um caminho no céu limpo, voltam para casa. Os bancos de cimento, que ontem abrigavam tomadores de chimarrão, estão abandonados. As figueiras parecem bêbadas de nostalgias e não é para menos, apesar do calor, não tem alma alguma, só um cachorro melancólico que deitado na areia, olha o horizonte. Uma senhora pedala com energia uma velha bicicleta, me olha, como estranhando minha presença. O tempo, que estava parado, começou a andar. Amanhece e só agora percebo que não lembro como cheguei a este lugar. Não sou eu quem agora contempla a lagoa. A dúvida que tenho sobre mim desaparece, sou uma miragem, apenas um eco do que fui. Não existo mais.