A origem deste pobre blog está na suspeita, ou melhor, no delírio de que Pelotas é a cidade gêmea de Granada. Almas gêmeas como elas não há neste mundo. Mas a paz das suas ruas que se cruzam na minha imaginação se estremece com a chegada de duas estranhas, de cabelos ao vento, olhos oblíquos e cheios de água, como chorando, como rindo. Estranhas para os outros, não para mim. Conheço as duas, tão parecidas como diferentes.
Vejo, com o rabo do olho, uma ponta de ciúmes em Pelotas, Granada finge que chora e mostra indiferença. Sou fiel às duas, como um bígamo incurável e persistente. Elas duvidam, não acreditam, mas sou mesmo. Uma está mais perto de mim e a acaricio quase a diário, quando acordo; a outra vive no sonho que de manhã, ainda lembro, como se fosse de longe, uma miragem. Sonho e realidade, fantasias e desejos, lembranças e o cotidiano se misturam se entrelaçam e fazem uma Pelonada.
As horas vão caindo, derretidas, a manhã passa, o relógio na parede branca gagueja, preguiçosamente, hoje é um dia qualquer. Tédio incrustado nas janelas. Acordo. Tomo café e leio. O relógio parece de borracha, escorre pela parede, chega até o chão e forma uma poça de tempo, as horas se confundem, a manhã se faz tarde, o dia se faz noite.
As estranhas que mencionei tão docemente femininas são Manágua e Montevidéu. Sei que é inacreditável, e pode parecer mais um delírio meu, produto de saudades não confessadas, mas Manágua é gêmea de Montevidéu, separadas pelo tempo, unidas pela distância. Se Manágua morreu na sua adolescência, Montevidéu chegou alegre a sua maturidade. Manágua sucumbiu destroçada por um terremoto em 1972. Seu coração explodiu em pedaços e, hoje, irreconhecíveis, permanecem insepultos de norte a sul. Em 1989 visitei Montevidéu e me surpreendi com as semelhanças dos seus bairros. Começou assim, mesmo sem eu sabê-lo o melhor dos retângulos amoroso, com dois ângulos no sul e dois no centro da América.
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