domingo, 19 de abril de 2009

Manágua, Penélope e eu

Talvez Penélope não seja a melhor música de Serrat, mas a letra fala do desencontro e da espera, por isso toca fundo em qualquer alma desgarrada e cindida como a minha.
Ele parte um dia, ela espera como na mitologia grega, uma Penélope moderna como tantas outras, como muitos outros com alma de Penélope. São amantes divididos pelo tempo vazio, um parte e outro espera.
Ela espera resignada na estação de trem, o tempo vai se dissolvendo em suas mãos que tecem sem parar. Ele volta, mas ela está aferrada à imagem e sentimentos de um tempo que se foi. E ele volta outro, já não é o mesmo, o tempo passou, nunca somos os mesmos, mas ela espera o mesmo que se foi.
Ela espera àquele que nunca virá, porque não existe mais. Há um desencontro doloroso e uma terrível diferença entre os dois e que é inexplicável. Existe a diferença entre quem parte e que fica a esperar. Ele leva consigo a imagem dela e quando volta, ele a reconhece de imediato e se identifica: sou seu amor, regressei. E a imagem que ela guarda dele não coincide com quem retorna, não o reconhece e disse de um golpe só “Você não é quem espero”. A representação se revolta contra a realidade. E ela continua a esperar eternamente àquele que nunca voltará. Mas o contrário também poderia ter acontecido, ele poderia voltar e falar: “Não é por você que eu voltei, é por aquela que um dia eu deixei”. E o mundo fica de pernas para o ar, mas o desencontro é o mesmo. Hoje Manágua não é a mesma que deixei aquele 12 de fevereiro, eu também não sou.

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