Faz frio. Tiro do armário meu velho blusão de lã que mais parece uma bandeira anarquista, ou sandinista: xadrez, vermelho e negro. O sol entra obliquo no meu quarto, incendiando as paredes. Ontem descobri, sem querer, que o tempo é uma densa e escura nuvem que a alegria do sol dissipa devagar, inevitável. O sol, feito estilete, arranca dela, pedacinhos, mudando o ritmo, ora devagar ou ligeirinho, dependendo do humor do astro-rei, ou do meu. No final a nuvem desaparece, o céu fica transparente e a vida volta ou se vai.
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